Cumo todos ls dies bemos i oubimos dezir na telbison, hai, na maior parte de ls spitales de l Paíc, grande falha de médicos p’acumpanhar las ties ne l trabalho de parto i a dar a la lhuç ls ninos.
Bamos, aton, a ber cumo, hai cinquenta ou mais anhos, se passában estas cousas. Era you yá moço i lhembra-me de, quando inda garotico, la tie Sabel Tarasca, que, nesse tiempo, era la parteira, cuntinar a ajudar las ties d’Angueira a parir. Nun bos scandalizeis cun esta palabra, pus era assi que, nesse tiempo, alhá se dezie dar a la lhuç ou botar ls ninos al mundo.
Cuido que tenerá sido eilha que, a mi i als mius armanos de pai i mai – Jorge, Anica, Eimílio i Aquilino, todos nós, cumo nuosso pai i nuossa bó Ana, coincidos pula alcunha de Pera/o –, mos tenerá ajudado a benir al mundo, i a tirar-mos de la barriga de la nuossa mai – la tie Marie Rosa, Quintanilha d’alcunha – i, apuis, pula purmeira beç, a lhabar-mos, a anxugar-mos i a bestir-mos i inda a oubir la nuossa purmeira cantilena.
Pula parte que me toca, tengo, oumenos, que dezir: “Oubrigado, tie Sabel Tarasca!”. Claro que, s’ambas a dues inda hoije fússen bibas, mie mai tenerie 106 anhos d’eidade i la tie Sabel Tarasca, oumenos dieç, mas, cumoquiera, inda mais qu’eilha.
Cumo será fácel d’eimaginar, nun fui solo a mi i a mius armanos que la tie Tarasca ajudou a benir al mundo. Cuido you que tenerá tamien ajudado a la maior parte de las mais de ls de la nuossa eidade i d’Angueira a botá-los al mundo.
S’l trabalho de parto dalgũa tie nun corrisse de lei, nun habie outro remédio, senó, ir a chamar tiu Chic’Albino, l barbeiro que fazie las bezes d’anfermeiro d’Angueira, i s’inda stubisse a tiempo, l doutor a Bumioso ou lhebá-la, de burro ou a cabalho, al spital de la Bila. Nun admira, aton, que, tamien por isso, nesse tiempo se morríssen tantos “anjicos” i ties inda mi nuobas.
Afertunadamente, hoije an die, yá mos podemos queixar, i cun toda la rezon, de nun haber i ls spitales, mesmo ls de las maiores cidades, nun tenéren oustetras subrecientes p’acumpanhar l trabalho de parto i oussiliar las ties i las moças a botar al mundo ls sous ninos i ninas. Eimaginai cumo serie se las ties i las moças d’agora tubíssen tantos ninos cumo tenien las daquel tiempo… Claro stá que, s’assi fusse, oumenos nun teneriemos la falta de giente, arriba de todo garoticos, moças i moços, i l grabe porblema de çpoboamiento q’afeta la maior parte de l nuosso Paíç i, arriba de todo, la Tierra de Miranda, l restro de l Nordeste Stramuntano i l anterior de l Cuntinente.
Esta ye ũa maneira de lhembrar i d’houmenagear mie Mai i todas las outras Mais que, hai cerca de setenta anhos i sin qualquiera assisténcia médica, botórun las “moças” i ls “moços”, la giente de la mie geraçon al mundo. Claro qu’esta ye tamien ũa houmenaige, indas que sencielha, a todas las outras Mais de l mundo.
Oubrigado, Mai! Tenemos muitas soudades buossas, tie Marie Rosa Quintanilha.
Bocabulairo/Vocabulário
afertunadamente – felizmente \\ al – ao \\ alhá – lá \\ an – em \\ anho – ano \\ anterior – interior \\ armano – irmão \\ arriba – acima \\ beç – vez \\ benir – vir \\ bien – bem, muito \\ Bila – Vila (de Vimioso) \\ bó – avó \\ Bumioso – Vimioso \\ buosso – vosso \\ çpoboamiento – despovoamento \\ cumoquiera – talvez \\ cuntinar – continuar \\ cuidar – pensar \\ de lei – como deve ser \\ dezir – dizer \\ die – dia \\ dieç – dez \\ dues – duas \\ eilha – ela \\ el – ele \\ houmenaige – homenagem \\ lhabar – lavar \\ lhembrar – lembrar \\ l – o \\ la – a \\ lhuç – luz \\ mai – mãe \\ mi – mim, muito \\ mie – minha \\ miu – meu \\ mos – nos \\ ningũa – nenhuma \\ ningun – nenhum \\ nino – menino \\ niũa – nem uma, nenhuma \\ nũa – numa \\ nun – não \\ nuosso – nosso \\ oumenos – pelo menos \\ oussiliar –auxiliar, ajudar \\ oustetra – obstetra \\ paíc – país \\ purmeiro – primeiro \\ rezon – razão \\ sencielha – singela \\ solo – só \\ soudade – saudade \\ spital – hospital \\ stramuntano – transmontano \\ stubisse – (forma do verbo “star”) estivesse \\ subreciente – suficiente \\ tamien – também \\ telbison – televisão \\ tener – ter \\ tie – tia, mulher, senhora \\ tiu – tio, homem, senhor \\ tubíssen – (forma do verbo “tener”) tivessem \\ ũa – uma \\ yá – já \\ ye – (forma do verbo ser) é \\ you – eu
A criação do Ministério da Coesão Territorial e a localização da respetiva secretaria de Estado em Bragança parece serem, talvez mais do que um indício, um sinal de que se pretende melhorar o panorama geral do País, mudando o paradigma das velhas políticas seguidas até à atualidade pelos governos do século passado e pelos que, já neste século, antecederam o atual.
Contrariamente ao que se passou nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, que, a partir da entrada de Portugal na CEE, usufruíram de avultados fundos da União Europeia (EU) que lhes proporcionaram a possibilidade de realizarem largos investimentos, o interior do Continente, especialmente o Nordeste Transmontano, continuaram a ser discriminados e a “ver navios”, em termos de investimento público e privado, em relação ao litoral. Assim, os governos dos anos 80 e 90 do século passado, para além de incentivarem o abandono da agricultura tradicional, encerraram as três linhas de caminho de ferro de via estreita – Sabor, Tua e Corgo –, que, embora mal e porcamente, com material circulante lento, incómodo e obsoleto, iam, apesar de tudo, servindo Trás-os-Montes.
Ultimamente, o atual Governo tem andado em périplo pelas capitais, cidades e vilas dos distritos do interior. Contudo, mais que as palavras e as promessas, interessam os atos e as realizações. Esperamos que, não se tratando de mera propaganda, tal medida represente e se traduza numa séria e decisiva aposta na coesão territorial do País.
Assim, é chegada a hora de o atual Governo redimir o Poder Central do abandono a que, por ação ou omissão, os governos da Ditadura e mesmo os posteriores ao 25 de Abril de 1974, por falta de investimento no interior, contribuindo para a diáspora, ajudaram a sugar a população para as localidades do litoral. Por essa via, conduziram ao despovoamento e à hecatombe demográfica que afetam Trás-os-Montes, especialmente o Nordeste Transmontano e, ainda mais gravemente, a Terra de Miranda: os municípios de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro.
Com a mobilização dos aderentes aos movimentos cívicos criados na Terra de Miranda – a Rede Atalaia em 2018 e o Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM) em 2020 – e, especialmente, com a elaboração e a discussão pública do Plano Estratégico da Terra de Miranda (PETM), o Movimento Cultural da Terra de Miranda dotou os referidos municípios e o próprio Governo de um plano de desenvolvimento para esta zona do País. O Poder Central e o Poder Local passaram, assim, a dispor de um instrumento, que, funcionando como bússola, pode, a partir de agora, nortear a sua ação neste território.
Entre os seus projetos de ação, o PETM acolhe a proposta da equipa de quatro engenheiros, que, em nome da Associação Vale d’Ouro e pro bono, procedeu ao estudo comparativo, em termos de percurso, de população servida, de impacto económico e ambiental, de redução de tempos de percursos e de custos do projeto e da viabilidade da sua concretização, fundamenta e sustenta a sua proposta de opção pela construção de uma linha de caminho de ferro de alta velocidade (AV) de ligação do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, passando por Paços de Ferreira, Amarante, Vila Real, Murça/Alijó, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Terra de Miranda, à linha do AVE Vigo – Madrid, em Zamora, e, pelo norte de Espanha, à França, em detrimento da linha de ligação de Aveiro, passando por Viseu, Guarda e Vilar Formoso, até Medina del Campo e seguindo depois para Madrid.
Porém, para meu espanto, há poucos dias, pela voz do secretário de Estado das Infra-estruturas, que, a convite da/o sr.ª/sr. Deputados distritais do Partido Socialista, se deslocou a Bragança, os Transmontanos foram brindados, em pleno inverno, com mais um banho de água fria. Afastando-se da posição assumida pela sr.ª ministra da Coesão Territorial – que havia declarado anuir à estratégia delineada pelo MCTM, adoptando-a como sua e possível modelo a aplicar a outras zonas do interior do País, se comprometeu a apoiar a concretização das propostas contempladas no PETM –, o referido sr. secretário de Estado, sem o mínimo pudor e qualquer respeito pela gente do Nordeste Transmontano e desprezando o trabalho desenvolvido pela equipa que, pro bono, produziu os estudos preparatórios da viabilidade de construção de uma via férrea de AV, ligando o Aeroporto Sá Carneiro às capitais de distrito e outras localidades importantes dos distritos do Porto, Vila Real e Bragança, seguindo, depois, pela Terra de Miranda até Zamora, com ligação a Madrid e, pelo norte de Espanha, a França. Fazendo letra morta desta proposta, o sr. secretário de Estado produziu declarações, que, parecendo afastar-se das linhas de força da ação do atual Governo, decalcam a bafienta cartilha política anteriormente seguida pelos governos do antes, mas também do pós-25 de Abril.
O Toural da feira, a nordeste do Santuário do Naso.
A partir dos anos 80 do século passado, o Nordeste Transmontano talvez tenha sido uma das zonas “privilegiadas” do território mais “prontamente contemplada” com o encerramento das linhas de caminho de ferro de via estreita. Agora, o dito sr. secretário de Estado, seguindo uma estranha forma de “compensar” Trás-os-Montes dos desmandos e arbitrariedades com que o “presentearam”, remete a construção da via férrea de AV que serviria (servirá?!) Trás-os-Montes para as calendas ou, recorrendo a uma expressão mais popular, para o Dia de São Nunca à tarde. Parece, assim, considerar que Trás-os-Montes não precisa – quiçá, nem merece! – que lhe seja conferida qualquer prioridade de forma a poder ser contemplada com investimento público na ferrovia. De uma só penada, deu, assim, mais uma machadada no sonho acalentado por aqueles que mantinham a esperança de que o atual Governo não perderia a oportunidade para, convertendo o múltiplas vezes reiterado círculo vicioso em virtuoso, redimir o Poder Central das discriminações arbitrárias com que, no passado, “premiou” Trás-os-Montes e o restante interior e que conduziram ao despovoamento de cerca de 2/3 do território do Continente. A litoralização dos investimentos e a consequente fixação de cerca de 2/3 da população na estreita faixa litoral compreendida entre Braga e Sines foram erros sucessivamente repetidos pelos vários governos que, há mais ou há menos tempo, antecederam o atual.
Vejamos, então, como o sr. secretário de Estado das Infra-estruturas equaciona o problema: a “espinha dorsal” ferroviária, por ele referida, tem, a meu ver e desde longa data, vindo a assistir à concentração do investimento público e privado no litoral. Nas doutas palavras do referido governante, “A geografia é o que é”(!…)” Terá sido assim que o País chegou ao lamentável estado em que, atualmente e mesmo nas suas palavras, se encontra: “Portugal “tem a população quase toda no eixo Braga/Faro e todas as infraestruturas de transporte se ligam (…) a esse eixo”, pelo que “sem estruturar esse eixo a utilidade das outras infraestruturas fica muito prejudicada.”” (Ver página: https://eco.sapo.pt/2023/02/27/governo-rejeita-comecar-ferrovia-por-tras-os-montes-e-nao-promete-alta-velocidade/?fbclid=IwAR3DHN0ZdONln-bIKK75snq-hFkFYeoAu4GTFiHQUhLsNOLrC5xIZjHHLLc – consultada em 5 de março de 2023).
O referido governante parece esquecer que a geografia, sobretudo a humana, está longe de ser a única condicionante da distribuição da população pelo território. Mais que condicionada pelas condições físicas ou naturais, embora sem deixar de as ter em conta, a ocupação humana e a distribuição da população pelo território são, acima de tudo, condicionadas pelos investimentos realizados, ou pela falta deles, e, no caso de Trás-os-Montes e do restante interior, pelo abandono a que, pelo menos, desde meados do século passado, o Poder Central os tem vindo e continuado a condenar. Foi assim que, nos anos 60 e 70, e, nos anos 80 e 90 do século passado, o Poder Central tem vindo a aproveitar, primeiro, as remessas de divisas dos emigrantes e, após a entrada de Portugal na CEE, os Fundos Europeus – destinados a promover a coesão europeia, aproximando o nível de desenvolvimento dos países periféricos/menos desenvolvidos ao dos países centrais/mais desenvolvidos da UE – para, avisada, acertada e coerentemente, continuando a concentrar o investimento público e privado no litoral, aprofundar o diferencial de desenvolvimento entre as regiões do País. Assim, é nos mesmos locais onde sempre foram feitos os investimentos e que, por isso mesmo e que, para além dos países que acolheram os nossos emigrantes, sugaram a população das terras do interior, que o Poder Central continua a concentrá-los. Não admira, pois, que os desequilíbrios da distribuição da população pelo território, anterior e historicamente gerados, corram o risco de serem ainda aprofundados e mais agravados, quase mesmo “perpetuados”. Assim, com 2/3 da sua população a ocupar uma faixa litoral de menos de 30 kms a partir da linha costeira entre Braga e Setúbal e da faixa costeira algarvia, não será de admirar que, como, há muitos anos, dizia o saudoso dr. Eurico Lemos Pires, mais dia menos dia, Portugal caia ao mar. Depois, lavando as mãos como Pilatos ou vertendo lágrimas de crocodilo, imputam a responsabilidade pela situação aos governantes que os precederam. Ainda que com um trago amargo de boca, quase apetece dizer: Dizem que Portugal é pequeno!… Afinal e pelos vistos, até parece ser grande demais! Por este andar, qualquer dia ainda é capaz de aparecer por aí um político de meia tigela, mas dotado de vastos lampejos de “argúcia”, a propor-nos vender em saldo a qualquer outro país eventualmente interessado cerca de 2/3 do nosso território atual!
“O centralismo é uma doença de que o país padece e que é muito provocada pelo desconhecimento. (…) O centralismo é sempre justificado em nome de um suposto racional de eficiência, que depois sucumbe à monstruosidade e inoperância das máquinas que são criadas. E temos então esses exemplos bizarros: florestas geridas a partir da Avenida da República, em Lisboa, ou coisas desse género, que sabemos o dano que provocam ao país e ao seu desenvolvimento.” (António Cunha, presidente da CCDR-N, na “Entrevista”, realizada por Luís Miguel Queirós e Manuel Roberto, Público, sábado, 18 de março de 2023, pág.ª 41). Seguindo o anacronismo da velha lógica denunciada pelo sr. presidente da CCDR-N, nas declarações do sr. secretário de Estado, vislumbra-se estar subjacente ao seu pensamento, justificar-se a continuidade das velhas políticas que têm vindo a tornar cerca de 2/3 do território do Continente num espaço de mato, abandonado, sem ninguém que o cultive e defenda e, como tal, condenado a ser pasto de incêndios. Tal “visão” só merece mais um comentário: perante uma maneira de pensar “tão lúcida, esclarecida, inovadora, ousada, equilibrada e justa”, o interior “está bem servido!”… Bem vistas as coisas, o pensamento do referido governante em nada se afasta ou difere – pelo contrário, decalca-a! – da lógica de pensamento sobre o País daqueles “esclarecidos, preocupados com os problemas e amigos do peito” do Nordeste Transmontano, que, há cerca de 40 anos, por ação ou por omissão, mandaram ou permitiram encerrar as linhas férreas de via estreita, que, embora mal, apesar de tudo, iam servindo a população de Trás-os-Montes: a Linha do Sabor, a Linha do Tua e a Linha do Corgo. Em vez de modernizar as linhas e o material circulante de forma a permitir praticar maiores velocidades, reduzir o tempo de viagem e conferir-lhes melhores condições de segurança, conforto e maior comodidade, o Poder Central e a concessionária preferiram encerrar de vez estas linhas férreas que tanto custaram e tempo levaram a serem construídas.
Tendo em conta o teor das declarações proferidas pelo sr. secretário de Estado das Infra-estruturas, que, anuindo ao convite que lhe foi dirigido pela/o sr.ª/sr. Deputados distritais de Bragança do Partido Socialista, se “dignou” deslocar-se a Bragança, para tomar a liberdade de, com a maior desfaçatez e alto e bom som, dar a entender aos “pretensiosos, sonhadores e irrealistas” Transmontanos: “Ora, tomem lá, que é para aprenderem!”
Sabendo que, infelizmente, a quase generalidade dos governos tomam decisões sobre medidas políticas a aplicar em função do número de possíveis eleitores existentes nas localidades, nos municípios e distritos, nas províncias, regiões ou zonas mais importantes do País, os governantes podem, porventura, laborar num erro: esquecer os laços e a ligação afetiva dos naturais que, devido à diáspora, ou dos que, por motivos de estudo, trabalho ou familiares, tiveram que deixar a terra natal para e/migrarem para o estrangeiro ou se fixarem nas grandes cidades do litoral. Se há alguns casos em que, só esporadicamente e por motivos de força maior, voltam de visita à terra de origem, muitos outros – arrisco mesmo dizer a maior parte dos Transmontanos –, mesmo os que residem no estrangeiro, mantêm fortes ligações à terra natal. Nestas situações, pode acontecer que, divididos entre “dois amores” – à terra de origem e àquela onde residem –, a sua opção de voto não seja condicionada apenas por uma das localidades. Assim, é bem possível que, na hora de votar, o façam na(s) força(s) política(s) que, do seu ponto de vista, alguma ou mais coisas importantes fez/fizeram em prol da sua terra-natal.
Tenho sérias dúvidas que alguém ou algum organismo tenham feito o levantamento dos naturais de quaisquer localidades, concelhos, distritos, províncias, regiões e zonas de Portugal a residirem noutros. Podemos, contudo, imaginar os muitos milhares de eleitores transmontanos e a primeira geração dos seus descendentes, que, residindo no estrangeiro ou nas grandes cidades do litoral do País, a sua opção de voto seja condicionada também pela atenção prestada e a ação votada pelas forças políticas ao seu torrão-natal. Seja como for, aqui fica o alerta…
Se não está familiarizada/o com a Língua Mirandesa, sugiro que, para facilitar a compreensão do texto, o leia a meia voz. Se, mesmo assim, sentir qualquer dificuldade em compreender o sentido ou descobrir o significado de alguma palavra menos usual ou cuja grafia se afasta maisda portuguesa, não hesite emconsultar o dicionário cujo “link” pode encontrar no final do mesmo.
Algumas especificidades fonéticas e ortográficas da Língua Mirandesa
Embora o Português e o Mirandês tenham origem no Latim, pelas vicissitudes do processo histórico, seguiram percursos e tiveram formas de evolução diferenciados. Assim, paralelamente à evolução do galaico-português, ocorreu a do ásture-leonês, que, na Terra de Miranda, viria a chamar-se Mirandês. Daí que a Língua Mirandesa tenha algumas especificidades fonéticas e ortográficas próprias que a diferenciam do Português. Vejamos, então, algumas delas: em Mirandês, não se pronuncia o som v, que é substituído pelo da letra b; usualmente, o prefixo des é substituído, consoante os casos, por ç ou z no início da palavra; para não se confundir com a contração da preposição a com o artigo definido o, que, em Mirandês, se escreve e lê al, o artigo definido o escreve-se l, mas lê-se também al; o diminutivodas palavras derivadas portuguesas formado pelo acrescento do sufixo inho/a no Mirandês é substituído por ico/a e, menos frequentemente, por ito/a; as palavras que em Português terminam na vogal nasal ã, no Mirandês, perde o til e fica terminada em ana (ex.ºs: manhã/Manhana, marrã/marrana); salvo raras exceções, os ditongos nasais ão e õe escrevem-se an e on; o m final das palavras portuguesas, no Mirandês é substituído pela letra n; geralmente, o l inicial das palavras é substituído pelo dígrafo lh; o dígrafo ch lê-se sempre tch; o Mirandês – talvez por, inicialmente, ser apenas uma língua falada – tende a contrair os pronomes, artigos, preposições e as conjunções com as palavras seguintes, quando estas são iniciadas por vogal.
Baláncio de quaije uito anhos de publicaçones subre Angueira
L final d’anho questuma ser l tiempo cierto pa se fazer qualquiera baláncio. Ye assi na eiconomie, nas ampresas, ne l Stado i ne ls serbícios públicos. Pus tamien a mi, que prezo la transparéncia, la prestaçon de cuntas i l dreito a la anformaçon, me parece que tengo algũas oubrigaçones an relaçon a quien ten tenido pacéncia i coraige pa me star a aturar, bendo ls testos que, zde 13 de abril de 2016, tengo benido a publicar ne l Blogue Angueira.net.
La maior parte deilhes screbi-los an Mirandés, la lhéngua que, an casa, era falada por mie mai i miu pai i sous filhos. Assi, fui an Mirandés que, tal cumo ls mius armanos, eicetuando l mais nuobo, you daprendi tamien a falar. Cumo tal, l Mirandés ye la mie purmeira lhéngua materna. Claro stá que tamien tengo screbido un ou outro testo an Pertués, la mie sigunda lhéngua, que daprendi a falar ne l cumbíbio cun outras pessonas de la gente fidalga d’Angueira, na eigreija i, apuis, quando, antre ls siete i ls dieç anhos, andei a la scola an Angueira, daprendi tamien a screbir.
Claro que nun fui nada fácele nin siempre pacífica la coeisisténcia de dues lhénguas na cabeça de l mesmo garoto. Bondará, a este respeito, ler l eicelente testo Dues Lhénguas de l eilustre i soudoso Amadeu Ferreira.
Apuis de me aposentar de la carreira d’anspetor de la Eiducaçon, pa nun me sentir einútele i sin acupaçon, dou-me na cabeça de, pula purmeira beç, ampeçar a screbir an Mirandés. Cumbenirá lhembrar que, quando era garoto i, bien anhos apuis, yá d’adulto, mi ralas serien las pessonas que screbien an Mirandés. Bá lá que, pa lhá de l soudoso i eilustre padre, i apuis doutor, António Mourinho, an debido tiempo, ampeçórun mais pessonas a screbir tamien an Mirandés. Antre todas eilhas, tengo que, arriba de todo, tornar a lhembrar outro eilustre studioso – zafertunadamente, tamien el yá zaparcido – mirandés, Amadeu Ferreira, de quien la lhéngua i la cultura mirandesas, sin squecer tamien Angueira, son mi grandes debedoras. A abaluar pulas ambestigaçones q’alhá fizo, puls testos que subre eilha screbiu i pula palestra q’alhá dou als partecipantes ne l Encontro dos Blogueiros do Praino, Amadeu Ferreira amostrou un special aprécio por Angueira, pul sou patrimonho, specialmente puls molinos mais antigos nas marges de la ribeira, i inda pula sue stória. Claro que outras/os hai que, seguindo tamien l eisemplo deilhes, pa lhá de studáren, screbíren i publicáren an Mirandés, fundórun i ténen benido a animar la Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesas. Grácias a outras/os i tamien a eilhes, bai yá para uns anhos que l Mirandés ampeçou a ser ansinado, purmeiro, an algũas scolas de l cunceilho de Miranda i, apuis, an algũas Associaçones de Stramuntanas an Lisboa i ne l Porto.
Se lirdes l testo De Trapos se Fai ũa Manta de Farrapos. Ls Porpósitos Deste Blogue (https://www.angueira.net/2016/04/19/33), que, an 19 de abril de 2016, publiquei ne l Blogue Angueira.net, podereis quedar a saber las rezones que me lhebórun a screbir estes testos.
La mie eideia era – i cuntina a ser – dar a coincer a las pessonas d’Angueira, als sous decendientes i a las de ls pobos bezinos, arriba de todo, de la Tierra de Miranda, un cachico de cumo era la bida de las pessonas d’antigamente. Abibando-les la mimória, poderan, assi, muitas deilhas lhembrar-se i matar soudades de la sue gente i d’Angueira.
Bamos aton a ber l quei, antre 13 de abril de 2016 i 31 de dezembre de 2022 (Gráf.º 1), se passou culs testos que tengo benido a screbir i a publicar ne l Blogue Angueira.net:
Eicetuando 2017, anho an que, por bias de tener stado acupado a dar formaçon als diretores de scolas i agrupamientos de scolas de l Norte, de l Centro, de Lisboa e Vale do Tejo, de l Alentejo i de l Algarve, publiquei mi pouquitos testos. Assi i todo, an 2017, l númaro de bejitantes de l Blogue fui maior q’l de 2016. Ne ls restrantes anhos, l númaro de bejitantes i de bisualizaçones fui oumentando todos ls anhos anté, an 31 de dezembre de 2022, alcançar un total de 15 127 bejitantes i de 25 421 bisualizaçones.
Cumo se puode ber ne l Quadro 1 i serie de sperar, Pertual, seguido por Spanha, Stados Ounidos, Fráncia i Brasil, son ls países cun mais bejitantes i bisualizaçones de todos ls testos. Solo nun me passarie pula cabeça que ls Stados Ounidos quedarien a la frente de la Fráncia i de l Brasil an númaro de bisualizaçones.
Bendo agora la çtribuiçon de bisualizaçones por Cuntinentes (Gráf.º 2), arriba de todo, l’Ouropa, mas tamien las Américas, çtácan-se de ls restantes. Ye na África q’hai menos bisualizaçones de ls testos de l Blogue. Assi i todo, quaije trés meses i meio antes de, a 13 de abril de 2023, cumpletar uito anhos, fui bejitado i bisualizado an 68 países. Bamos aton a ber ls dieç testos de l Blogue cun mais bisualizaçones (Quadro 2):
Ambora tenga sido publicado hai menos tiempo (2022), de todos ls testos, “Portugal de Lés a Lés”: Passaige de 2 400 “Motards” por Angueira, an pouco mais de meio anho, fui aquel que, ne l Blogue Angueira.net, tubo mais bisualizaçones. La rezon disso cumoquiera seia por tener sido bisto por alguns de ls partecipantes ne l çfile. Pa lhá disso, de todos ls testos de l Blogue, hai seis que ténen mais de 1 000 bisualizaçones, un cun mais de 900 i outro cun mais de 800, tenendo sido quatro deilhes publicados an 2016 i un – l sigundo mais bisto – an 2018.
Cumbenirá sclarecer que, ne l miu modo de ber, l testo que talbeç tenga sido mais bisto será La Compra dun Albardin na Feira de l Naso. Se calha, preguntareis bós: Mas por quei? Son dues las rezones: la purmeira, por tener sido publicado an cinco partes na “Fuolha Mirandesa”, por simpático cumbite i decison de l porsor, scritor i amigo Alfredo Cameirão, persidente de la Associaçon de la Lhéngua i de la Cultura Mirandesas i responsable pula dita “Fuolha“, an outras tantas eidiçones seguidas de l Jornal do Nordeste; la sigunda, por estas leituras nun stáren cuntablizadas ne l miu blogue.
Eiqui queda l mui agradecimiento i un abraço al dr. Alfredo Cameirão, scritor mirandés que leio cun grande agrado, porsor i pessona que muito admiro pul sou dinamismo i dedicaçon a la Tierra de Miranda i a la causa de la Lhéngua Mirandesa, sin squecer l Nordeste Stramuntano.
Hai inda outro texto, Bícios, Manhas i Artimanhas de l Burro de l Tiu Adriano, que, por tener sido partilhado ne l blogue dun amigo, las bisualizaçones deste testo ne l sou blogue tamien nun stan eiqui cuntablizadas.
Tengo q’acrecentar q’l oumento de l númaro de bejitantes i de bisualizaçones de ls testos de l Blogue Angueira.net se debe tamien a las paiginas, arriba de todo, stramuntanas de l FaceBook, algũas deilhas de la Diáspora i, cumo tal, çtinadas als nuossos eimigrantes. Eiqui queda tamien l miu agradecimiento a las i als administradoras/es dessas paiginas por me tenéren outorizado a partilhar neilhas ls testos de l Blogue.
Claro stá qu’inda réstran muitas outras stórias antressantes passadas antre la gente antiga d’Angueira i que fago tençon de, an debido tiempo, benir a publicar neste Blogue.
I, cumo, pula cierta, preguntarie Fernando Pessoa se screbisse an Mirandés: Baliu la pena?
Cuido que se puode dezir que si, q’l baláncio ye positibo. Hoije, mais pessonas sáben un cachico mais acerca d’Angueira, de la sue gente mais antiga, de ls porblemas mais defíceles q’hoije afétan la poboaçon, l sou termo i la gente q’alhá bibe. Alguns decendientes de pessonas d’Angueira, que, na purmeira metade i anté als anhos 60 de l seclo passado, fúrun oubrigados a eimigrar pa las Américas, mas, arriba de todo, pa l Brasil, tornórun a bejitar Angueira a ber i a saber de fameliares de sous pais que quedórun por Angueira ou qu’eimigrórun pa países de l’Ouropa.
A todas/os las/als amigas/os que ténen tenido la coraije pa se botáren a ler testos an Mirandés, parabienes i oubrigado, beisicos i abraços.
Buono Anho de 2023 a todas/os!
Bocabulairo \\vocabulário
Abaluar – avaliar \\ abibar – avivar \\ aire – ar \\ a la/al – à/ao \\ alhá – lá \\ alredores – arredores \\ amentar – referir, falar \\ ampeçar – começar \\ ampercípio – princípio \\ an – em \\ anganhar – enganar \\ anspetor – inspetor \\ anton/aton – então \\ antrar – entrar \\ antre – entre \\ aparcer – aparecer \\ apartar – separar \\ aprécio – apreço \\ apuis – após, depois \\ armano – irmão \\ arriba – acima \\ auga – água \\ baler – valer \\ balhe – vale \\ beç – vez \\ bejita/nte – visita/nte \\ berano – verão \\ bielho – velho \\ bien – bem \\ benido – (verbo benir) vindo \\ bondar – bastar \\ botar-se – pôr-se a fazer qualquer coisa \\ búltio – vulto \\ buntade – vontade \\ buolta – volta \\ cachico – pouquinho \\ calhar – acontecer por acaso, calar \\ causo – caso \\ çcanso – descanso \\ çcuidar – descuidar \\ çcunfiar – desconfiar \\ çfile – desfile \\ cheno – cheio \\ coincer – conhecer \\ coraige – coragem \\ çpachado – despachado \\ çpique – despique \\ c’ũa/c’un/cun – com uma/um, com \\ cul/a – com o/a \\ cumbenir – convir \\ cumoquiera – talvez \\ cunsante – consoante \\ cunta/r – conta/r \\ cuntablizado – contabilizado \\ decendiente – descendente \\ decison – decisão \\ deilha – dela \\ del – dele \\ dezir – dizer \\ dieç – dez \\ dreito – direito \\ dũa – duma \\ eilha – ela \\ eilhi – ali \\ eimbierno – inverno \\ eiqui – aqui \\ el – ele \\ fame – fome \\ feitiu – feitio \\ fondo – fundo \\ fuora – fora \\ houmenaige – homenagem \\ houmilde – humilde \\ huorta – horta \\ inda/s –ainda \\ l/la – o/a \\ lhá – lá \\ la – a \\ le – lhe \\ lhadeira – encosta \\ lhado – lado \\ lhargo/uito – largo/uinho \\ lhembrar – lembrar \\ mai – mãe \\ mala/o – má/mau, doente \\ manhana – manhã \\ mano – mão \\ marge – margem \\ mi – mim, muito \\ mie/miu – minha/meu \\ naciente – nascente \\ nacírun – (verbo nacer) nasceram \\ naide – ninguém \\ nel – nele \\ nin – nem \\ nin sequiera – nem sequer \\ niũa/ningũa – nem uma, nenhuma\\ nó/nun – não \\ nũa – numa \\ nuobo – novo \\ nuosso – nosso \\ oumenos – pelo menos \\ parcer – parecer \\ paixarada/páixaro – passarada/pássaro \\ palo – pau \\ pie – pé \\ poner – pôr \\ poniente – poente \\ porparar – preparar \\ porriba – por cima, do lado de cima \\ puonte – ponte \\ pul/a – pelo/a \\ puolo – pó \\ pus – pois \\ punton – pontão \\ quaije – quase \\ qualquiera – qualquer \\ quedar – ficar \\ quegirdes (forma do verbo querer) – quiserdes \\ rejistir – resistir \\ riba – cima \\ scaleiras – escadas \\ sclarecer – esclarecer \\ scuitar – escutar, ouvir \\ seclo – século \\ senó – senão \\ sfregante – instante \\ solo – só \\ Spanha – Espanha \\ spantar – espantar \\ spreitar – espreitar \\ stramuntano – transmontano \\ stubo/isse (verbo star) – esteve/ivesse \\ studar – estudar \\ suorte – sorte \\ talbeç – talvez \\ tempra – têmpera \\ tengo – (verbo tener) tenho \\ tie/tiu – tia, mulher, esposa/tio, homem, marido \\ tubo/isse (verbo tener) – teve/tivesse \\ ũa – uma \\ yerba – erva \\ zabafar – desabafar \\ zafertunadamente – infelizmente
Para saber o significado de outras palavras, carregue no “link”:
http://www.mirandadodouro.com/dicionario/Se quiser aderir a qualquer dos 23 grupos da Rede Atalaia, basta acrescentarao nome de cada localidade do concelho de Vimioso a palavra Atalaia. Pesquise, depois, o nome do(s) grupo(s) no Facebook e peça a sua adesão ao(s) mesmo(s).
Se não está familiarizada/o com a Língua Mirandesa, sugiro que, para facilitar a compreensão do texto, o leia a meia voz. Se, mesmo assim, sentir qualquer dificuldade em compreender o sentido ou descobrir o significado de alguma palavra menos usual ou cuja grafia se afasta maisda portuguesa, não hesite emconsultar o dicionário cujo “link” pode encontrar no final do mesmo.
Algumas especificidades fonéticas e ortográficas da Língua Mirandesa
Embora o Português e o Mirandês tenham origem no Latim, pelas vicissitudes do processo histórico, seguiram percursos e tiveram formas de evolução diferenciados. Assim, paralelamente à evolução do galaico-português, ocorreu a do ásture-leonês, que, na Terra de Miranda, viria a chamar-se Mirandês. Daí que a Língua Mirandesa tenha algumas especificidades fonéticas e ortográficas próprias que a diferenciam do Português. Vejamos, então, algumas delas: em Mirandês, não se pronuncia o som v, que é substituído pelo da letra b; usualmente, o prefixo des é substituído, consoante os casos, por ç ou z no início da palavra; para não se confundir com a contração da preposição a com o artigo definido o, que, em Mirandês, se escreve e lê al, o artigo definido o escreve-se l, mas lê-se também al; salvo raras exceções, os ditongos nasais ão e õe escrevem-se an e on; o m final das palavras portuguesas, no Mirandês é substituído pela letra n; geralmente, o l inicial das palavras é substituído pelo dígrafo lh; o dígrafo ch lê-se sempre tch; o Mirandês – talvez por, inicialmente, ser apenas uma língua falada – tende a contrair os pronomes, artigos, preposições e as conjunções com as palavras seguintes, quando estas são iniciadas por vogal.
Agradecimentos
Agradeço a todas/os quantas/os, abnegadamente, disponibilizando o seu tempo e o seu saber à causa, contribuíram para a formação e às/aos que têm vindo a aderir e a apoiar os dois movimentos cívicos – Rede Atalaia e Movimento Cultural da Terra de Miranda –, criados em prol da resolução dos graves problemas que afetam o bem-estar, a língua e a cultura da população das localidades dos três municípios da Terra de Miranda.
Criaçon de ls Mobimientos Cíbicos Rede Atalaia i Movimento Cultural da Terra de Miranda
A la purmeira bista, teneran sido çfrentes las rezones que lhebórun alguns cidadanos de l cunceilho de Bumioso, por um lhado, i outros de ls cunceilhos de Miranda de l Douro i de Mogadouro, por outro, a criar estes dous mobimientos cíbicos.
La toma de cuncéncia de l mui alto númaro de abstençones nas Eileiçones Nacionales i, arriba de todo, nas Outárquicas de 2017, lhebou alguns cidadanos ouriginairos de bárias poboaçones de l cunceilho de Bumioso a, ne l final desse anho, dáren ls purmeiros passos pa la formaçon de la Rede Atalaia. Agregando 23 grupos, un a mais que las 22 poboaçones de l munecípio de Bumioso, fui criada a 6 janeiro de 2018 cumo forma de podéren tamien dar l sou cuntrebuto al Movimento pelo Interior. Stando persentes i anterbenindo nas einiciatibas deste mobimiento, nas quales apersentórun ls sous puntos de bista.
Dous anhos i un cachico mais apuis, a 6 de márcio de 2020, preacupados cul negócio de l trespasse de la sploraçon de seis barraiges – trés deilhas ne l Douro Anternacional i na Tierra de Miranda i outras tantas tamien ne l Nordeste Stramontano –, alguns cidadanos ouriginairos de bárias poboaçones de ls cunceilhos de Miranda de l Douro i de Mogadouro dórun ls purmeiros passos cun bista a la formaçon de l Movimento Cultural da Terra de Miranda. Arriba de todo, este mobimiento fui criado pa prebenir i alertar Sue Eiceléncia l Sr. Persidente de la República, l Gobierno, ls Deputados, ls Outarcas, ls Mirandeses, ls Purtueses i la Outoridade Tributaira pa l que poderie star a passar-se cul negócio de l trespasse de la sploraçon de las barraiges eisistentes i sploradas pula EDP – las de Miranda de l Douro i Picuote ne l cunceilho de Miranda de l Douro, la de Bemposta ne l cunceilho de Mogadouro i las restrantes noutros munecípios de Trás-ls-Montes. Ye que çcunfiaban que las ampresas ambolbidas neste negócio starien a porparar-se pa se çafáren de pagar ls debidos ampuostos. Assi, culas sues manobras, poderien perjudicar estes munecípios, negando-les l dreito a recebir la parte de ls mesmos, receita que, cumo todo lhieba a crer, les será debida.
Mas, pa lhá destas, que fúrun las mais próssimas, houbo inda outras rezones q’hai muito tiempo bénen perjudicando ls trés cunceilhos de la Tierra de Miranda – Miranda de l Douro, Mogadouro i Bumioso – i inda outros de l Nordeste Stramontano i que, cumo tal, lhebórun a la criaçon destes dous mobimientos: l squecimento, l abandono i la falta d’ambestimiento i de zambolbimiento a que, antes i apuis de l 25 de Abril de 1974, ls gobiernos les ténen cundanado; i, debido a isso, l amprobecimiento que lhebou a l’eimigraçon, al çpoboamiento, al ambelhecimiento de la populaçon, al ancerramiento de las bias de l camino de fierro i d’outros serbícios públicos eissenciales: scolas, houspital, stradas, carreiras, bancos, tribunales, correios, antre outros. Estes porblemas ajúdan-mos a antender l stado lhastimoso a que, ne ls dies d’hoije, chegou la demografie, l’eiconomie i la situaçon social de la gente de la Tierra de Miranta, de l Nordeste Stramuntano i de l Anterior de Pertual. Mas nun cuideis, pori, que ye por falta de recursos própios – bien pul cuntrairo! –, que chegórun a un stado de tal grabidade.
Ne l seclo passado, milhentas pessonas – dezenas de milhar deilhas de la Tierra de Miranda – fúrun forçadas, pus nun tubíran outro remédio, senó, eimigrar pa las Américas i, a partir de ls anhos 60, para outros çtinos na Ouropa, adonde, apuis de cunseguíren lhebar ls fameliares, refazírun las sues bidas. Assi i todo, las qu’eimigrórun pa países de l’Ouropa – arriba de todo pa la Fráncia i pa l’Almanha –, mantenendo las sues raízes, oumenos ũa beç por anho, quaije todas an agosto, tornában, i inda tórnan, a las sues tierras pa ber i matar soudades de la sue gente i tratar de las sues porpiadades. La maior parte deilhas (re)custruíran ou amanhórun las sues casas. I, cula eideia dun die tornáren, de beç, pa Pertual, muitas deilhas fúrun cumprando mais porpiadades. Assi, quando se reformórun, algũas tornórun de beç pa Pertual, mas la maior parte deilhas, pa podéren star perto de ls sous filhos i nietos, i de ls sous amigos i cuntinar a aceder als serbícios de salude desses países, pássan metade de l anho an cada lhado: ls meses mais frius, ou seia ne l outono i d’eimbierno, ne ls países para donde eimigrórun, i la outra metade, ne ls meses mais calientes, ou seia na primabera i ne l berano, an Pertual.
Atentos al que cuntina a passar-se i a la grabidade de la situaçon an que hoije s’ancóntran las poboaçones de ls trés cunceilhos de la Tierra de Miranda, ls dous mobimientos ténen inda mais cousas an quemun: cada qual, ne l tiempo próprio i a sou modo, publicou un lhibro adonde apersenta las sues maiores preacupaçones i dá cunta, a la populaçon i als outarcas, de las sues porpuostas de seluçon para aqueilhes que, ne l sou modo de ber, son ls maiores porblemas de l cunceilho de Bumioso i de la Tierra de Miranda: Concelho de Vimioso, O Desafio da Interioridade (2018), por parte de la Rede Atalaia; l Plano Estratégico da Terra de Miranda (2022), por parte de l Movimento Cultural da Terra de Miranda. Cumo se puode ber nestes lhibros, ls dous mobimientos ténen inda an quemun la maior parte de ls oubjetibos, preacupaçones i porpuostas de seluçon q’un i outro aperséntan. Bien bistas las cousas, cada qual a sou modo, ambos a dous se porpónen ajudar a rebitalizar las poboaçones de l cunceilho de Bumioso i de ls outros dous munecípios de la Tierra de Miranda.
Assi i todo, hai tamien algũas cousas que cfréncian estes dous mobimientos: la stratégia i la dinámica seguidas na dibulgaçon de las sues atebidades por parte de l Movimento Cultural da Terra de Miranda. Assi, an márcio i abril de 2020, inda antes de la sue formaçon, cuntando cula eisiténcia de bárias associaçones ne ls cunceilhos de Miranda de l Douro i de Mogadouro – Associaçon de la Lhéngua Mirandesa, Frauga, Lérias, Galandum Galundaina, Chocalheiro de Bemposta –, apostou an ambolber i mobelizar estas associaçones na formaçon i nas atebidades de l mobimiento. A 13 de julho, apersentou l sou Manifesto al Paíç nũa cunferéncia d’amprensa. Pa lhá disso, ten cunseguido tamien ambolber políticos de ls bários partidos i outarcas, jornalistas i las telbisones na dibulgaçon de quemunicados i nobidades subre l negócio de las barraiges. La clareza de l oubjetibo que lhebou ls fundadores de l mobimiento a ouníren-se i a criá-lo, l sou protagonismo, las sues strutura, forma de ourganizaçon, de debison de l trabalho i de dibulgaçon de la sue atebidade, juntamente culas peripécias de l negócio que parece séren scandolosas, fúrun l furmiento q’ajudou l mobimiento a crecer i a tornar-se mais coincido i, assi, a cunseguir l apoio i a tornar-se capaç de mobelizar mais gente ne l Paíç.
Por sue beç, apuis de criada, la Rede Atalaia fui tratando de la sue strutura ourganizacional i, cunsante iba oumentando l sou númaro d’aderentes – an 17 de maio de 2018, tenie yá alcançado 5 450 adesones! –, fui ponendo a funcionar l grupo i la páigina de cada poboaçon de l cunceilho. Passados trés ou quatro meses, todas las poboaçones de l cunceilho tenien ls sous grupos formados, las sues páiginas a funcionar i la maior parte deilhas ls sous admenistradores nomeados. Assi, grácias als admenistradores de ls grupos de las poboaçones, la Rede Atalaia, cachico a cachico – ou seia, més a més –, fui siempre crecendo, anté, antre ls que neilhas nacírun, eimigrados ou nó, ls sous decendientes i amigos, ne l final d’agosto de 2022, quedar a pouco mais de 200 nuobas adesones p’alcançar 18 000 ne l cunjunto de ls grupos i poboaçones de l cunceilho. Pa se perceber bien l segneficado de l númaro d’adesones, bonda lhembrar que, fazendo fé ne ls Censos de 2021, an 31 de dezembre desse anho, l cunceiho de Bumioso yá só tenerie un cachico mais de 4 100 moradores. Inda an 2018 i ne ls anhos a seguir, pa lhá de la participaçon nas einiciatibas de l Movimento pelo Interior, alguns de ls fundadores de la Rede Atalaia fúrun recebidos an oudiéncia por Sue Eiceléncia l Sr. Persidente de la República, cumbersórun cul menistro de l’Agricultura i, juntamente cul persidente de la Cámara Munecipal, recebírun ũa figura amportante de la política nacional na bejita que fizo a Bumioso. Cumo forma de sensibelizar a todos eilhes pa ls porblemas de l cunceilho, fazírun-le l’antrega de l lhibro Concelho de Vimioso, O Desafio da Interioridade. Pa lhá disso, l aderente, pintor i músico José Augusto Coelho tocou, pa Sue Eiceléncia, l hino de la Rede Atalaia, de l’autorie de Piedade Galhardo i musicada pul grupo Maranus, i antregou-le tamien l quadro Tia Papoila, l retrato dũa figura representatiba de l cunceilho de Bumioso, pintado por el.
Ne l miu modo de ber, pa la Rede Atalaia i l Movimento Cultural da Terra de Miranda tenéren inda mais fuorça, solo les falta dáren-se las manos i, caminando a la par i ounindo sfuorços antre eilhes i cula gente i culs outarcas de ls trés cunceilhos, eisegíren al Poder Central que les preste, agora, l’atençon i les faga la justícia, que, hai tiempo demais, les ye debida, mas les ben a ser negada: zambolber i rebitalizar la Tierra de Miranda, cumo tamien l Nordeste Stramuntano i todo l Anterior de l Paíç.
Todos trés – la Tierra de Miranda, l Nordeste Stramuntano i todo l Anterior de l Paíç – percísan, merécen i yá nun ye sin tiempo q’l Poder Central ampece a fazer-les la justícia que les ye debida, mas que, nun passando de la cepa tuorta, tarda demais. Seia cumo fur, muitos son yá ls cidadanos que nun stan çpuostos a quedáren mais tiempo, quetos, calhados i de manos atadas, a la spera que la seluçon de ls sous porblemas les caia de l cielo.
Fuorça i upa a todos eilhes!
Para saber o significado das palavras mais difíceis, carregue no “link”:
Se quiser aderir a qualquer dos 23 grupos da Rede Atalaia, basta acrescentarao nome de cada localidade do concelho de Vimioso a palavra Atalaia. Pesquise, depois, o nome do(s) grupo(s) no Facebook e peça a sua adesão ao(s) mesmo(s).
Se o/a leitor/a não está familiarizado/a com a Língua Mirandesa, sugiro que, para facilitar a compreensão do texto, o leia a meia-voz. Se, mesmo assim, sentir qualquer dificuldade em compreender o sentido ou descobrir o significado de alguma palavra menos usual ou cuja grafia se afasta maisda portuguesa, não hesite em consultar o Vocabulário que pode encontrar no final do mesmo.
Breves notas sobre a grafia do Mirandês
Em Mirandês, não se pronuncia o som v, que é substituído pelo da letra b; usualmente, o prefixo des é substituído, consoante os casos, por ç ou z no início da palavra; para não se confundir com a contração da preposição a com o artigo definido o, que, em Mirandês, se escreve e lê al, o artigo definido o escreve-se l, mas lê-se também al; salvo raras exceções, os ditongos nasais ão e õe escrevem-se an e on; o m final das palavras portuguesas é, no Mirandês, substituído pela letra n; geralmente, o l inicial das palavras é substituído pelo dígrafo lh; já o dígrafo ch, em Mirandês, lê-se sempre tch; talvez por, inicialmente, ser apenas uma língua falada, o Mirandês tende a contrair os pronomes, artigos, preposições e as conjunções com as palavras seguintes, quando estas são iniciadas por vogal.
Agradecimentos
Agradeço à professora Fátima Malheiro, à arquiteta Vera Fernandes, aos engenheiros Vítor Moreira e Jorge Fernandes, ao professor Adérito Carabineiro, ao dr. Álvaro Moreira (advogado), ao coronel Manuel Lopes, ao Francisco Afonso, meu parente basileiro, e aos conterrâneos Nuno Bilber, Ricardo Preto, Avelino Gomes e David Alves, que, gentilmente, me disponibilizaram e/ou autorizaram a publicar fotos de sua autoria que têm vindo a partilhar na página do grupo Angueira Atalaia. A todas/os e a cada uma/um delas/es, muito obrigadoe um abraço.
La passaige de las i de ls motards por Angueira
Hai ũa rezon pa tener screbido este testo an Mirandés: Angueira ye ũa de las dues poboaçones – la outra ye Bilasseco – de l cunceilho de Bumioso adonde inda se fala tamien la Lhéngua Mirandesa. Hai quien diga que fui por anfluéncia de l porsor Moreno, mas, ne l miu modo de ber, arriba de todo por proua i se tenéren yá morrido las pessonas mais bielhas qu’inda la falában, zde final de l seclo passado, deixou de se falar Mirandés an Caçareilhos.
Na tarde de deimingo, die 12 de junho de 2022, apuis d’almuorço, pulas dues de la tarde, you i Dulcineia, la mie tie, stábamos ambos a dous a salir de casa qu’era de mius pais, ne l Cimo de l Pobo d’Angueira, adonde naci i passei la mie anfáncia. Mal ponimos l pie fuora de la puorta, pássan por nós quatro ou cinco motas, mui grandes i potentes i de matrícula nacional i strangeira.
Motards de l Portugal de Lés-a-Lés a antrar ne l cimo de l pobo d’Angueira na tarde de 12 de junho de 2022
Rue de Sante Cristo abaixo, passado un cachico, pássan por nós mais outras tantas motas i, apuis, inda mais outras. A camino de l Pilo, adonde íbamos a tomar café cun miu armano Emílio, mie cunhada Cristina i ls nuossos amigos i sous bezinos Adérito i Teresa Carabineiro – que stában tamien a passar uns dies an Angueira –, cuntínun a passar por nós inda mais motas. I l mesmo se passou ne l restro dessa tarde.
Angueira: passaige de ls motards pul Lhargo de Sante Cristo.
Stábamos todos nós, mais Guilherme de l tiu Lazarete i la sue tie, a la selombra ne l cabanhal de la sede de l’Associaçon Cultural, cada qual a tomar sou café. Oulhando pa l cimo de las Scaleiricas, abisto anton ne l aire, purmeiro, dous ou trés i, un cachico apuis, dues ou trés dezenas d’abutros a bolar mui alto i an circlo subre l ribeiro de l Balhe. Nun dou pa ls cuntar nin ber bien a todos, pus staba muita lhuç i l cielo, indas que cun algũas nubres, mui claro. Éran tantos que quaije parcie que stában apostados an fazer cuncorréncia als abiones que todos ls dies pássan pul cielo de l termo d’Angueira. Assi i todo, inda les tirei alguns retratos cul telemoble, pus tenie-me squecido de la máquina de tirar retratos an casa.
Angueira: abutros a bolár ne l cielo porriba de las Scaleiricas, ne l ampercípio de la tarde de 12 de junho de 2022.
Deilhi a cachico, cuntínun a passar de l Lhargo de Sante Cristo pa l de l Ronso i, por antre la casa de l tiu Cereijas i de la tie Mar’Inácia Fresca i la sede de la Junta i de l’Associaçon Cultural, cada beç mais motas.
Angueira: retrato animado de la passaige de ls motards pul Lhargo de Sante Cristo.
Stando ũa tarde de calma mi caliente, dous motards de Felgueiras i mais uns poucos páran las motas ne l Ronso. Parcendo stafados i star cun friu squesito, abáncan junto a nós, a la selombra, i aporbéitan pa tomar café i se refrescáren cun golo d’auga i outras bubidas.
Angueira: motards a çcansar un cachico ne l café i cerca de la fuonte, de l chafariç, de ls huortos de l Pilo i por baixo de la sede de l’Associaçon Cultural i de la Junta.
De seguida, mais alguns motards páran las motas i aporbéitan tamien pa se refrescar i çcansar un cachico a la selombra dũa nogueira, cerca de la fuonte, de l chafariç i de ls huortos de l Pilo.
Cuntinando a chegar cada beç mais motas, ampecei a tirar-les retratos de çfrentes sítios: purmeiro, de la baranda i de l terraço porriba de la frauga de la casa qu’era de l tiu Ferreiro i de la tie Clorinda i que miu armano Emílio cumprou i recuperou; de seguida, ancuostei-
Passaige de ls motards de l Lhargo de Sante Cristo pa l Lhargo de l Ronso an Angueira.
-me a la squina de la parede porriba de l terraço de la casa qu’era de l tiu Sora i de la porsora Eirnestina – recustruída puls nietos que l’hardórun – i, birado pa l Lhargo de Sante Cristo, mas oulhando tamien para antre l cimo i l fondo de las huortas de l Pilo, yá quaije ne l Cachon i cerca de l fondo de l pobo; apuis, ne l Lhargo de Sante Cristo, porriba i antre la capielha, l cimo de la casa qu’era de l tiu Morais i un cachico abaixo de l curral i de las loijas de las bacas de l tiu Aran, birado caras a las casas de l tiu Canoio i de l tiu Joan Fresco, coincido tamien cumo tiu Ratico – cumprada, recuperada i adonde, hai mais de dieç anhos, passou a morar l porsor Brancal de l Porto –, tirei dezenas de retratos.
Angueira: passaige de ls motards pula Rue de Sante Cristo abaixo.Retrato animado de la passaige de ls motards pulas huortas de l Pilo caras a l’Eigreija d’Angueira.
Era yá fin de tarde quando you i Dulcineia tornemos para casa ne l Cimo de l Pobo i un cachico arriba de la casa de la scola bielha. L fondo desta, dando de caras cul amigo Carlos Pires – filho d’Ana Guiomar i nieto de la tie Piadade –, la sue tie i l filho deilhes, que, benidos de Lisboua, stában tamien a passar uns dies por alhá, stubimos eilhi a cumbersar cun eilhes, miu primo Francisco i Ana Marie Coira, la sue tie, qu’eilhi stában tamien.
Carlos Pires (de cuostas), la sue tie, miu primo Farncisco i Ana Marie Coira, la sue tie, i la mie Dulcineia a béren passar ne l Cimo de l Pobo ls últimos motards que chegórun a Angueira.
Solo a partir de las siete i meia de la tarde, antes de se çponer l Sol, ye que deixemos d’oubir qualquiera rugido de motas a passar ne l Cimo de l Pobo. Assi i todo, stou an crer que, cumoquiera, serie yá lhusque-fusque quando ls motards que chegórun mais tarde a Angueira teneran salido pa San Joanico, passando, apuis, pul PINTA, pula Bila (Bumioso), por Pinelo ou por Carçon i pula bila d’Argozelo, poboaçones de l cunceilho de Bumioso, uns i outros apuis por Outeiro a camino de la Cuncentraçon an Bergáncia.
Soutordie, quando you, la mie tie i l nuosso filho mais nuobo tornábamos para Braga, na outostrada, passórun por nós, an sues motas, dezenas de motards. Tamien eilhes tornában para casa. Na área de serbício antes de Bila Real, inda falei cun casal mi simpático subre la biaige que, na biespera, tenien feito anté la Cuncentraçon de motards i l que, nesta, se passou an Bergáncia.
Un reparo
Por çcuido, ou, cumoquiera, por çtraçon, ls outarcas de la Junta de l’Ounion de Fraguesies de Caçareilhos i Angueira i de la Cámara Munecipal de Bumioso nun teneran dado coincimento a las pessonas i, subretodo, al moço que splora l café de qu’íban a passar por Angueira milhentos motards de l Portugal de Lés-a-Lés. Dando aires de nun saber de nada i star çprebenido, l moço nun pudo aporcatar-se i anquemendar mais garrafas d’auga i de cerbeija nin outras bubidas i, anté mesmo, uns petiscos pa matar la sede i la fame a tantos partecipantes neste çfile. Stando el solico a serbir ls clientes, tamien nun tubo manos a medir p’abiar tantas pessonas q’ambadírun l café.
Nun fura isso, ls fuorasteiros poderien tener sido mais bien aculhidos i atendidos. Bondaba abrir tamien l bar de la Zona Balnear i Parque de Merendas de la Cabada. Poderien, assi, çcansar i refrescar-se un cachico a la selombra i chafurgar, anté, na ribeira. Nun quedarien assi bien mais de-lei?
Angueira: Zona Balnear i Parque de las Merendas de la Cabada ne l berano.
Quien sabe s’alguns deilhes, pa zantorpecer las piernas i refrescar tamien ls uolhos, nun se botarien, ribeira abaixo ou ribeira arriba, a dar un poulico a la Senhora ou anté al Múrio! Poderien, assi, pa lhá de guapas paisages, ber l molino, la casa de l molineiro, la çuda i las huortas d’Ourrieta Caliente ou las de la Cabadica i de l Múrio.
Ora dezi-me alhá: pa lhá dun çperdício, nun fui ũa pena?! Nun será yá tiempo de quien nun puode, nun sabe ou nun quier saber, nin relar-se ou dar-se al trabalho a fabor de l bien público – de la poboaçon, de la sue gente i de ls bejitantes –, arrumar las botas i, dando la beç a outros, nun quedar por ende atrás de mais uns çtonicos de l eirairo público i, assi, a tener que dar aires de fazer que fai?
Angueira: speilho d’auga na Zona Balnear i Parque de Merendas de la Cabada ne l outono. Retrato tirado pula amiga Fátima Malheiro, porsora de l Porto, a quien agradeço por me tener outorzado a publicá-lo.
Seinha disso, ye que, pul final de tarde, la dona Palmira Cereijas dixo a la mie tie que, al passáren ne l Cimo de l Pobo, dous motards, bendo-la a regar l jardin a la frente de casa, parórun i le pedírun que les regasse cula mangueira. Quedórun, assi, todos cunsolados i agradecidos.
Fui ũa suorte you i la mie tie nun tenermos salido d’Angueira nessa tarde i, bermos assi l çfile de ls motards i les tirar alguns retratos. Calhou tamien de star por lhá l amigo David Alves, moço natural d’Angueira, mas que bibe i trabalha an Balhadoliç (Spanha), que fizo dous bídeos deilhes, nas motas, a passar al fondo de la poboaçon, de l Pilo pa la Eigreija. Indas que tenga que l’agradecer por me tener outorizado a partielhá-los, tengo muita pena, mas nun ye possible publicá-los eiqui.
Dues ou trés cousas acerca d’Angueira
A quien alhá passou i solo la biu de relhance, tengo que dezir dues ou trés cousas subre Angueira, la poboaçon i l sou termo, un circlo de cerca de trés a quatro quilómetros de raio, de tierras de cultibo i de monte, al redor deilha.
Aporbeito tamien pa partielhar ũa bista de la poboaçon d’Angueira – ye probable que remonte, oumenos, al seclo VII – i de l sou termo, adonde, antes d’alhá chegáren ls Romanos, habie dous castros de ls Celtiberos: l de la Quecolha i l de l Gago, que, cumo nun podie deixar de ser, stan arruinados.
La poboaçon d’Angueira bista de l alto de l Múrio, retrato tirado ne l berano de 2019
Ambora sendo de l munecípio de Bumioso – que, juntamente culs de Miranda de l Douro i de Mogadouro, fórman la Tierra de Miranda –, Angueira ye ũa poboaçon de l cunceilho de Bumioso adonde, pa lhá de Pertués, inda se fala tamien Mirandés.
De la ribeira d’Angueira, tengo que lhembrar ls sous carangueijos outóctones (lagostins de pata branca) i las bariedades de peixes – scalhos, barbos, xardas, antre outros – q’alhá habie a la farta, mas, zafertunamente, stan an bias de stinçon; las çudas, ls molinos i casas de ls molineiros, que stan, hoije, an rúina; i, nas marges de la ribeira i de ls ribeiros que, neilha, ban a zaugar, las huortas, mui fértiles i mimosas, algũas deilhas que yá nin sequiera stan cultibadas, i ls lhameiros, alguns deilheis pouco cuidados ou mesmo al abandono.
Angueira: represa ne l ribeiro de la Puontelhina an Bal de Conde. Retrato tirado pula porsora Fátima Malheiro.Angueira: lhameiros de la Puontelhina.
Lhembro tamien que, antre l termo i la poboaçon, pa lhá de l forno de la teilha ne ls Puntones i de l pison de la Cabada, ribeira abaixo, ribeira arriba, habie inda an Angueira, nas sues marges, pa lhá de las uito çudas, quatro caliendras i trés casas de l molineiro de que réstran inda siete i trés, uito molinos de que réstran inda quatro cun bários seclos: l de las Trés Ruodas ou de ls Lucas, i l de l tiu Alfredo, un al cimo i outro al fondo de Terroso, l de ls Deminguitos na Senhora, l mais antigo pus data, oumenos, de l seclo XIII, i inda l de Telhado. Lhembro que, antre 1246 i 1256, l mosteiro de Moreiruola (Spanha) cumprou als hardeiros de Don Tello Fernandes – a quien l rei Don Sancho le tenie feito la doaçon d’Angueira – la poboaçon, la eigreija, un molino – cuido que tenerá sido l de las Trés Ruodas – i l todo l termo d’Angueira. Ambora an rúina, las çudas, caliendras, casas de l molineiro i molinos que réstran son inda recuperables.
Angueira: molino de las Trés Ruodas ou de ls Lucas an Terroso. Retrato tirado pul angenheiro Vítor Moreira.Angueira: casa de l molineiro de l molino de la tie Amélia i de l tiu Alfredo de l Moilino al fondo de Terroso i al cimo de la Yedra. Na çuda deste molino, ne ls anhos 60 de l seclo passado, l Goberno mandou fazer la represa i, a partir deilha, l canal d’eirrigaçon antre la Yedra i las Uolmendas, cun cerca de trés kms i todo el an cantarie.Represa de l sistema d’eirrigaçon d’Angueirane l final d’eimbierno. Ampeça eiqui l canal de l’eirrigaçon, cun cerca de trés kms, que sigue pula marge dreita de la ribeira i dá pa regar las huortas de la Yedra, Ourrieta Caliente, la Senhora, de l Tanque, de la Cabada, Eigreija, Çança, de l Cachon, de laSalina, Mediana, de ls Puntones, de la Faceira i de las Uolmedas. Retrato tirado pula porsora Fátima Malheiro.Angueira: casa de l molineiro de l molino de ls Deminguitos ou de la Senhora, cerca de 200 metros arriba de la Zona Balnear i Parque de Merenda de la Cabada. An frente desta casa i al fondo d’Ourrieta Caliente stan l molino i la çuda.Angueira: piedra cula data de 1247 porriba de la argolha d’atar las béstias que lhebában al pan pa l molino de ls Deminguitos na Senhora.
Quédan eiqui alguns retratos de lhameiros i huortas q’hai nas marges de la ribeira i de ls ribeiros.
Angueira: lhameiros de Boca ls Balhes pa la Francosa. Retrato tirado ne l ampercípio de la primabera.Angueira: huortas de l fondo de la Faceira. Mesmo serbidas pul canal de l’eirrigaçon, parte deilhas yá nin stan cultibadas.Angueira: huortas de la Mediana i de Faceira de l Prado. Alhá atrás i mais loinje, béien-se ls Sierros, al meio i un cachico mais baixo, l Cabeço de la Binha que tapa l monte de la Gralheira i, a la dreita, l Cabeço de la Quecolha.Angueira: huortas de la Mediana. Mesmo serbidas pul canal d’eirrigaçon, algũas yá nin sequiera stan cultibadas.Angueira: çuda de las Uolmeda. Deiqui, pula caliendra de las Antraugas, iba l’auga pa l molino de Telhado.
Ne l termo d’Angueira, cerca de ls Sierros i ne l Prado i a cerca de trés quilómetros de la poboaçon, inda alhá stá la capielha de San Miguel – ũa de las, senó mesmo la mais antiga de ls alredores – i, al redor deilha, un antigo semitério.
Angueira: la capielha de San Miguel. Retrato tirado, hai yá alguns anhos, por Francisco Afonso, miu pariente brasileiro, filho de mie prima Maria Albina Chic’Albina i de Lázaro Stroila.
Sabeis ũa cousa? Pa lhá d’inda se falar la Lhéngua Mirandesa, de l ancanto de las bistas, de ls guapos recantos i paisaiges – peinhas, ribeira/os, fauna i flora bariadas –, an Angueira, nun fáltan ganados de canhonas, de burros i buiadas.
Angueira: Fraga de la Puontelhinane l ampercípio de la primabera. Retrato tirado de la Cortinona ne l alto de la marge dreita de l ribeiro de la Puontelhina.Angueira: Peinha de la Garça. Retrato tirado por Álvaro Moreira, abogado de l Porto.Lhontras na ribeira d’Angueira ne l eimbierno. Retrato tirado pul amigo Vítor Moreira, angenheiro de Braga.Angueira: pista de carambelo i niebe na Cabada. Retrato tirado pul angenheiro Vítor Moreira.Angueira: un nebon. Retrato tirado pul miu pariente Ricardo Preto, filho de ls mius primos Joan Quintanilha i Ana Marie Canoia.Angueira: anchena ne l Parque de Merendas de la Cabada. Retrato tirado por Nuno Bilber.Angueira: madronheiro de l Sierro de ls Malhadades. Retrato tirado ne l final de l’outonhopul angenheiro Jorge Fernandes.Angueira: canha-frecha. Retrato tirado pul dr. Álvaro Moreira, abogado de l Porto.Burro i buiada nun lhameiro de l termo d’Angueira. Retrato tirado ne l berano pul coronel Manuel Lopes..Un ganado i l perro de guarda ne l termo d’Angueira. Retrato tirado ne l eimbierno pula porsora Fátima Malheira.
Grandes ou pequeinhas, mais ricas ou mais probes, nun fáltan an Angueira casas antigas, molinos, corriças, palombares, huortas, tierras i lhameiros a la benda. Cuido que nun son nada caros nin será defícel recuperá-los.
Angueira: a l’antrada i de l lhado dreito de la caleija, la casa de bibir de l tiu Chico Regino i de la tie Felizarda; al fondo, la casa de morar de l cabo Xabier i de la Ti’Ana Caneda an Saiago.Angueira: casa de ls Raianos an SaiagoAngueira: caleija, forno, pátio i casa de morar de la tie Janeira an Saiago.Angueira: casa de l tiu Chafin i de la tie Sabel Cadata an Saiago.Angueira: casa de l tiu Cereijas i de la tie Mar’Inácia Fresca ne l Lhargo de l Ronso. Pa lhá de la casa de bibir, éran tamien eiqui la sue taberna, l sou açouge i la sue penson.Angueira: parte de baixo i antrada de la casa de las Machacas an Sante Cristo. Retrato tirado pul angenheiro Vítor Moreira.Angueira: palombar de ls Quintanilhas na Canhada.Angueira: corriça de ls Zilros an Ourrieta l Castro. Cumo esta, hai inda ne l termo d’Angueira mais de 15 corriças.Angueira: casica de la huorta de ls Galharitos, al fondo de la caleija de Peinha Ferreira i al cimo de la çuda de Terroso.
Pessonas que se deixórun ancantar por Angueira
Hai mais de quarenta anhos que alguns homes de posses – médicos dentistas, angenheiros, abogados, porsores, comerciantes i profissonales doutros ramos i serbícios –, benidos de fuora – subretodo de Braga, mas tamien de l Porto, de Biana de l Castielho, de Puonte de Lima i doutras cidades i bilas –, ne l tiempo própio de la caça, ampeçórun a aparcer, oumenos un die por semana, pa caçar perdizes, lhiebres, coneilhos, rolas i outros páixaros an Angueira. Cula alteraçon de la lei de la caça i l cunsentimiento de ls moradores i duonhos de las tierras, decidírun criar la Zona Associatiba de Caça d’Angueira. Pouco apuis, passórun tamien a caçar jabalis i corsas. De seguida, ampeçórun a cumprar i a recuperar casas antigas i alguns deilhes a morar an Angueira.
Angueira: casas recuperadas na Rue de Sante Cristo. A la dreita, casa de l tiu Ratico i de la tie Justina Rata, cumprada i recuperada pul porsor Brancal, de l Porto; a la squierda, casa recuperada pul miu pariente, l dr. juiç Rui Stebes.Angueira: casa de morar de l tiu Chetas i de la tie Blisanda Bitorina, cumprada i recuperada pul angenheiro Vítor Moreira, de Braga.
Hai outros que, de tiempos a tiempos i an bárias alturas de l anho, seia berano ou eimbierno, outonho ou primabera, ban anté lhá passar algũas semanas.
Hai trés ou quatro anhos, un casal francés cumprou i recuperou la casa de la scola nuoba i passou a morar an Angueira, adonde recebe muitos strangeiros.
Casa de scola nuoba, recuparada i oumentada pul casal francés Castelli-Fontenay, que passou a bibir an Angueira.
Al mesmo tiempo, pa lhá de ls eimigrantes, algũas pessonas nacidas tamien an Angueira, mas que, hai muitos anhos, dalhá salírun pa studar i/ou trabalhar an cidades de Pertual, ampeçórun tamien a recuperar ou a recustruir las casas q’hardórun de sous pais.
Assi, hoije an die, cumo podereis ber, Angueira yá nun ye la mesma: a par dalgũas casas arruinadas, ye possible tamien ancuntrar outras yá recuperadas.
Angueira: fachada Sul i lhado birado pa la Salina de la casa de l capitan Bernardino i de la dona Marie Rosa Steba, recuperada pul filho i miu pariente, dr. Paulo Bernardino.Angueira: casa de la dona Anfáncia Cachona, recuperada pul filho, angenheiro Aníbali la arquiteta VeraFernandes.Angueira: frauga i casa de morar de l tiu Ferreiro i de la tie Clorinda, cumprada i recuperada pul major Emílio i Cristina Torrão.Angueira: casas qu’éran de la dona Anfáncia Cachona i de la tie Nabarra, recuperadas pul sou filho, angenheiro Aníbal i la arquiteta Vera Fernandes.Angueira: casas de Sante Cristo. A la squierda, la casa de l tiu Alexandre i de la tie Francequita, recustruída puls pais de l’anfermeira Teresa Carabineiro i, mais recentemente, por esta i l sou home, l porsor Adérito Carabineiro; al meio, la capielha de Sante Cristo i, a la dreita, l curral de l tiu Arán i l lhado naciente de la casa de las Machacas. Rue abaixo, ũa buiera, atrás de cinco bacas i ũa sobrana de raça mirandesa. Retrato tirado pula porsora Fátima Malheiro.
Deixai, anton, que bos faga ũa pregunta: nun será de fazer cumo eilhes?
Motards ou nó, zafio-bos, assi, a mudar d’aires: a trocar l frenesi i rugidos de la cidade pul silenço i la paç de l campo; a deixar la poluiçon i l stress pa tornar a la calma natural i a respirar aire lhimpo i puro; a scapar de las multidones pa cumbibir cun pessonas outénticas i bibenciar ls sous modos de bibir i de bida; a deixar l acunchego i las comodidades de la bida moderna de la cidade i a anfrentar las cundiçones própias – carambelo, niebe, friu i calor – de la bida natural; a botar pa trás de las cuostas las cousas malas de l persente para, an lhiberdade, rebibir situaçones de l passado; a trocar l’ouniformidade de cumportamientos, ls modos de bida i las maneiras de bibir ourbanos pulas dibersidade i simplecidade própias de l ambiente i de la bida natural.
Bá, bamos alhá! Amanhai un tiempico lhibre, pegai na mota i nas alparagatas i botai-bos anté lhá!
Angueira cumBida!
Bocabulairo//vocabulário
Abancar – assentar-se // abion/es – avião/ões // abiar – servir, despachar // abogado – advogado // abutro – abutre // acá – cá // adonde – aonde, onde // aire – ar // al – ao // alhá – lá // alparagatas – chinelos, sapatilhas // al redor – em volta, ao redor // alredores – arredores // ampeçar – começar // ampeçar – começar // ambadir – invadir // an – em // ancantar – encantar // ancuostado – encostado // anfáncia – infância // anganhar – enganar // anho – ano // anquemendar – encomendar // anté – até // anton – então // antrada/antrar – entrada/entrar // antre – entre // aparcer – aparecer // aporcatar-se – prevenir-se, precaver-se // apuis – após, depois // armano – irmão // arriba – acima // – após, depois // armano – irmão // arruinado – arruinado, em ruína // assi – assim // assi i todo – mesmo assim // auga – água // balhe – vale // Balhadoliç – Valhadolid //beç – vez // bejita/nte/r – visita/nte/r // benida – vinda // benir – vir // berano – verão // Bergáncia – Bragança //bezino – vizinho // bia/s – via/s // biaige – viagem // bibir – viver // bielho – velho // bien – bem, muito // biespera – véspera // bila – vila // Bilasseco – Vilar Seco // bolar – voar // bonda – basta // bornal – pilha de cereal na eira com a forma de um pião invertido // bubida – bebida // buer – beber // bui/ada/eira – boi ou touro/boiada/boieira // Bumioso – Vimioso // buolta – volta, colar // buono – bom // cachico – bocacinho // caliente – quente // caleija – caminho estreito entre paredes, viela // caliendra – canal por onde corre a água do açude para o moinho // calma – muito calor, calma // caminada – caminhada // camino – caminho // canhona – ovelha // capielha – capela // carambelo – gelo // çcansar – descansar // çcanso – descanso // çcuido – descuido // çcunfiar – desconfiar // çfile – desfile //çfrente – diferente // chafariç – chafariz, tanque de água para o gado beber // chafurgar – mergulhar // chano – chão // cheno – cheio // chubir – subir // cielo – céu // circlo – círculo // coincer – conhecer // coneilho – coelho // corriça – construção retangular no termo, em pedra solta de xisto ou de granito, com telhado ou não, onde o pastor recolhe o rebanho nas noites de inverno // çperdício – desperdício // çponer – pôr-do-Sol // çprebenido – desprevenido // çtáncia – distância // çtonicos – tostõezinhos // çtraçon – distração //çuda– açude, presa de água de moinho // cuidar – pensar // cul/a – com o/a // cumbeniente – conveniente // cumoquiera – talvez // cun/c’ũa – com/com um/a // cunceilho – concelho // cuntinar – continuar // cuosta – costa, descida ou subida de um monte // da peto – de propósito // dar aires – dar aspeto, parecer // deilhi – dali // deimingo – domingo // de-lei – como deve ser // dezir – dizer // dieç – dez // die – dia // dixo/e – (formas do verbo dezir) disse (3.ª e 1.ª pessoa, respetivamente) // donde – onde // dou – (forma do verbo dar) dou/deu // dous/dues – dois/duas // duonho – dono // dreito – direito // drento – dentro //dũa – duma // eilha – ela // eilhes – eles // eilhi – ali // eimbierno – inverno // eiqui – aqui // eirairo – erário // eisistir – existir // el – ele // ende – aí // fago/fai/fizo – (formas do verbo fazer) faço/faz/fez // fame – fome // frauga – forja // friu – frio // fuonte – fonte // fuora – (do lado de ou de) fora // fura – (forma do verbo ser ou ir) fora // ganado – rebanho/gado // golo – gole // grano – grão // guapo – bonito, pimpão // hardar/eiro – herdar/eiro // hoije – hoje // home – homem, marido // huorta – horta // i – e // inda/s – ainda // juiç – juiz // l/la – o/a // lhá – lá, além // lhado – lado // lhameiro – lameiro, prado cercado por muro // lhebar – levar // lhembrar – lembrar // lhéngua – língua // lhiberdade – liberdade // lhibre – livre // lhiebre – lebre // lhougo – logo // lhuç – luz // lhusque-fusque – lusco-fusco // loinje – longe // malo/a – (adj.) mau/má //mano – mão // marge – margem // mi – mim, muito // molineiro – moleiro //molino – moinho // naide – ninguém // naciente – nascente // nebon – nevão // ne l – no // niebe – neve // nieto – neto // nin – nem // ningũa – nenhuma // nin – nem // nun stante – num instante, rapidamente // niũa – nem uma, nenhuma // niun – nenhum // nó – não // nubre – nuvem // nũa – numa // nuite – noite // nun – não, num // nuobo – novo // oulhar – olhar, ver // oumenos – pelo menos //ouniformidade – uniformidade // ounion – união // ourbano – urbano // outarca – autarca //outéntico – autêntico //outonho – outono // outorizado – autorizado // outostrada – auto-estrada // pa – para // paç – paz // paisaige – paisagem // pa lhá – para lá // palombar – pombal // parcer – parecer // parriba – para cima // passaige – passagem // Pertual – Portugal // pessona – pessoa // Piadade – Piedade // pie – pé // pierna – perna // pilo – nascente de água // pobo – povo, povoação //poboaçon– povoação // poner – pôr // pori – por azar // porparar – preparar // porriba – por cima // poulico – pulinho // praino – planalto // probe – pobre // própio – próprio // proua – vaidade, orgulho // pul/a – pelo/a // punta – ponta // puodo/ie – (forma do verbo poder) posso, pôde/podia // puorta – porta // purmeiro – primeiro // quaije – quase // quejísse/quérgan – (formas do verbo querer) quisesse/queiram // questume – costume // quien – quem // quier – quer // ralo – raro // relar-se – preocupar-se, chatear-se // relhance – relance // rezon – razão // riba – cima // rue – rua // ror – rol, grande quantidade // rugido – ruído, barulho // salbaige – selvagem // sbarrulhar – ruir, cair abaixar // scaleiricas – escadinhas // scalho – escalo, espécie de peixe fluvial // scola – escola // screbir – escrever // seclo – século // seinha – sinal // selombra – sombra // sequiera – sequer // siete – sete // sobrana – vitela na fase de transição a vaca // solo – só // son – (forma do verbo ser) são // soutordie – no dia seguinte // Spanha – Espanha // spece – espécie // splicar – explicar // squecer – esquecer // squesito – esquisito // squierdo – esquerdo // squina – esquina // stafado – cansado // staçon – estação // stan – (forma do verbo star) estão // stinçon – extinção // subretodo – sobretudo // tener – ter //tengo – (forma do verbo tener) tenho // tie – senhora, mulher, esposa, tia // tiempo/ico – tempo/inho // tiu – senhor, homem, marido, tio // todo – tudo // uito – oito // yá – já // ye – (forma do verbo ser) é // yerba – erva // you – eu // xardas – pequenos peixes em fase de crescimento // zafertunado – infeliz // zafio – desafio // zantorpecer – desentorpecer // zaparcer – desaparecer // zaporcatado – desprevenido // zaugar – desaguar // zde – desde
Para saber o significado de outras palavras, carregue no “link”:
Caso queira saber a localização de alguns sítios do termo de Angueira – as informações orográficas e a toponímia em Mirandês foram, respetivamente, inscritas pelo David Domingues e por mim próprio –, carregue no “link”:
Se quiser aderir ao grupo Angueira Atalaia ou a outro dos 23 grupos da Rede Atalaia, basta acrescentarao nome de cada localidade do concelho de Vimioso a palavra Atalaia. Pesquise, depois, o nome do grupo no Facebook e peça a sua adesão ao mesmo.
Se o/a leitor/a não está familiarizado/a com a Língua Mirandesa, sugiro que, para facilitar a compreensão do texto, o leia a meia-voz. Se, mesmo assim, sentir qualquer dificuldade em compreender o sentido ou descobrir o significado de alguma palavra menos usual ou cuja grafia se afasta maisda portuguesa, não hesite em consultar o Vocabulário que pode encontrar no final do mesmo.
Breves notas sobre a grafia do Mirandês
Em Mirandês, não se pronuncia o som v, que é substituído pelo da letra b; usualmente, o prefixo des é substituído, consoante os casos, por ç ou z no início da palavra; para não se confundir com a contração da preposição a com o artigo definido o, que, em Mirandês, se escreve e lê al, o artigo definido o escreve-se l, mas lê-se também al; salvo raras exceções, os ditongos nasais ão e õe escrevem-se an e on; o m final das palavras portuguesas é, no Mirandês, substituído pela letra n; geralmente, o l inicial das palavras é substituído pelo dígrafo lh; já o dígrafo ch, em Mirandês, lê-se sempre tch; talvez por, inicialmente, ser apenas uma língua falada, o Mirandês tende a contrair os pronomes, artigos, preposições e as conjunções com as palavras seguintes, quando estas são iniciadas por vogal.
Las nobidades de la bida moderna
Indas que la Tierra pareça praina i parada, la berdade ye qu’eilha ye redonda i stá an mobimiento cunstante i siempre a demudar. Ambora haia quien, cumo aqueilhes tontos de ls Stados Ounidos que, nun acreditando na ciéncia, biba na eiluson de que las cousas nun son assi, i, cumo tal, cuide i querga q’l mundo nun ande nin demude, puode trabar la marcha, mas nun cunsigue parar la ruoda de l tiempo. Ye solo ũa queston de tiempo, pus, mais cedo ou mais tarde, las nobidades acában por chegar a qualquiera lhugar.
Debagar, debagarico, alhá ban chegando a Angueira
A seguir a la custruçon de la strada antre Caçareilhos i Angueira i de la puonte de la Cabada ne ls anhos quarenta i cinquenta de l seclo passado, debagar debagarico, na sigunda metade de l mesmo seclo, alhá fúrun chegando a Angueira inda outras nobidades, algũas ambenciones, las nuobas tecnologies, cumo, hoije an die, se diç: las de la lhaboura, las de casa, las de quemunicaçon a la çtáncia, las d’antretenimiento – l’auga ancanhada, l telfone i l rádio, antre outras. Claro stá que la telbison, tal cumo ls frigorifos, só chegarien uns anhos mais tarde, apuis d’alhá chegar la lhuç eilétrica.
Pul final, i tamien palantre, de ls anhos cinquenta, cada tie, pa lhá da cuntinar a ajudar l’home na lhaboura i de cuidar de la cria, de ls cochinos i de las pitas, tenie inda por sue cunta toda la lhida de casa: fazer la quemida, lhabar la lhouça, barrer i arrumar la casa, lhabar, passar a fierro i remendar la roupa i cuidar de ls garotos. Nun bondando isso, d’eimbierno, al serano, inda se botaba a filar un manelo de lhana ou de lhino ou a fazer meia. I, yá na cama, inda tenie q’aturar l sou home. Nesse tiempo, se calha cumo inda hoije acuntece oumenos a algũas deilhas, nun faltaba que fazer a las ties…
Pula manhana ou a la tarde, fazisse friu ou calor, alhá íban eilhas a camino de l lhabadeiro cada qual cun sou baldo ou cesto de roupa suja. Pa la lhabaige de la roupa, habie an Angueira, cumo que an regime de franchising, nuobe lhabadeiros al çpique antre eilhes: cinco funcionában an outros tantos sítios de l ribeiro de l Balhe – un al cimo de la cortina de ls Prietos, i mesmo abaixo de la Francosa, outro al fondo de la caleija de l Balhe, outro ne l Pilo i mais dous, un al cimo i outro al fondo de l Cachon – i inda mais quatro noutros tantos sítios de la ribeira – na Senhora, na Cabada, na Çanca i ne ls Puntones.
Las máquinas de lhabar roupa, q’anton funcionában a la mano i a auga i xabon, éran las ties ne ls lhabadeiros. I éran tan çpachadas que, a la mano i cula lhéngua – algũas deilhas tenien mesmo lhéngua de prata! –, alhá íban dando cunta de l recado: lhabar toda la roupa suja de casa i de l pobo ne l lhabadeiro. Si, qu’inda haberie que sperar uns pares d’anhos até estas máquinas ampeçáren a usar OMO, l purmeiro i mais coincido de ls puolos de lhabar la roupa q’alhá s’usou. Assi i todo, stou an crer qu’éran las lhénguas de prata que lhabában mais branco! Bá, se calha, nin serien las ties, i inda menos aquel puolo pa la roupa, mas cumoquiera ls homens de letras – i, claro stá, tamien de númaros – quien ponie las ties a cuidar que l OMO lhaba mais branco! Claro stá que, a la par destes i doutros puolos i an beç de l xabon i destas ties, las fidalgas ampeçórun a usar ls xabonetes pa lhabar la cara i l cuorpo.
Cumoquiera las purmeiras máquinas que chegórun a Angueira téngan sido las de questura Singer pa las ties i ls homes cun ls oufícios de questureira, d’alfaiate i de çapateiro. De questureiras, lhembra-me de la dona Adelaide Capadora, que, afertunadamente, inda ye biba, de la Tolhidica i de la tie Muda, mas cumoquiera inda haberie mais; d’alfaiates, lhembra-me de l tiu Dabid, que scapou pa l Brasil, de l tiu Almonico i de l tiu Manuel Fertunato; de çapateiros, lhembra-me de l tiu Arnesto Raiano, de l tiu Lino i de sou pai, l tiu Eibaristico, i inda de l tiu Albinico, que quaije só fazie cholos i que, pu l final de bida, scapou pa l sou filho ne l Brasil.
Nesse tiempo, solo l cura – l padre Zé Maria, que, cula sue criada, bibie an Caçareilhos – i l senhor Correia tenien carro legeiro. Todo ls dies, pa lhá de l Breviário – purmeiro, l padre Zé Maria i, apuis, l padre Silbestre –, farien la lheitura de l Novidades. Solo eilhes, por deber d’oufício, i l senhor Correia, pa quedar a par de l que se passaba ne l Paíç i ne l Mundo, ye que passarien ls uolhos puls jornales. Las restrantes pessonas d’Angueira, pa lhá de ls lhibros de ls garotos pa la scola, de l Catecismo“, de l’A Rosa do Adro i, se calha, tamien de l Livro de São Cepriano – que ye l santo padroneiro d’Angueira –, poucas mais tenerien outros lhibros de sou, an casa.
Pula mesma altura, tal cumo tenerá acuntecido tamien nas poboaçones al redor d’Angueira i noutras de la Tierra de Miranda, pa lhá de ls adubos, de ls nitratos, de l remédio de las patatas, de las máquinas trilhadeiras, dun ou dous tratores, d’algũas bicicletas, moterizadas i dalguns carros legeiros, furgonetas i dun camion, tamien la auga canalizada i l telfone chegórun a Angueira. Habie mesmo seis ou siete famílias que tenien auga canalizada, retrete i banho – la maior parte de las restrantes casas de bibir só passarien a çponer destas comodidades un cachico antes ou a seguir al 25 de Abril de 1974 – i telfone an casa. Assi, s’adregasse algũa de las restrantes pessonas de l pobo percisar de telfonar, bondaba ir até a la casa de l tiu Manuel Júlio, ne l meio de l pobo, adonde l telfone público i l posto de correios funcionában, i ũa de las sues filhas – la menina Regina ou la menina Alice – alhá staba pronta pa l’atender i fazer la lhigaçon.
Telfone antigo. Foto por Dayvison de Oliveira Silva em Pexels.com
Cula strada i la puonte prontas, pa lhá de ls purmeiros carros legeiros, ne ls anhos cinquenta, ampéçan tamien a chegar a Angueira tendeiros, çapateiros i ls baratilhos. Apuis, ne ls anhos sessenta, alhá chégan tamien ls bendedores de redes d’arame i de xaragones de scuma pa la cama. Mas, çfrentemente de la maior parte de las ties, algũas deilhas, nun podendo cumprá-los anton, cuntinórun inda mais algun tiempo a drumir an camas de fierros i xaragones de cuolmo de palha ou de fuolha de milho.
Ne l ampercípio de ls anhos sessenta, quando ampeçou la guerra an Angola, Guiné i Moçambique, yá habie an Angueira alguns apareilhos de rádio. Lhembra-me d’Antonho Zilro i de ls Manulones ponéren ls sous a la jinela, a tocar bien alto. Quien ls quegisse scuitar quedaba aton a saber las nobidades de la guerra quelonial i podie inda oubir uns fados d’Amália Rodrigues, Fernando Farinha i Tony de Matos, ũas modas de ls cunjuntos Maria Albertina i António Mafra i inda Eugénia Lima a tocar acordeon. Claro que, ne l sereno de las nuites de berano, habie tamien quien, assentado a la puorta de casa, se ponie a spreitar l cielo a ber se, pa lhá de la lhuna i las streilhas, bie passar aqueilhas cousas de ls russos de que, a la boca pequeinha, s’iba anton oubindo falar: l satélite Sputnick i la perra Laica a las buoltas ne l spácio.
Fuonte: Retrato tirado por Clem Onojeghuo an Pexels.com
Bede bien cumo nesse tiempo éran las cousas… Bondaba q’ũa tie cumprasse qualquierea cousa ou aparato moderno, era quaije cierto que, de seguida, la maior parte de las outras ties nun le quedarien atrás. Assi, quaije poderiemos saber qual l anho, pus era por épocas i por modas: la de l OMO i doutros puolos de lhabar la roupa, la de ls xaragones de scuma, la de las camisas de nailo i de tebé, la de las calças de terilene, la de ls fugones, la de las panelas de presson, la de las telbisones, la de ls frigorifos, la de las arcas cungeladoras, la de las máquinas de lhabar roupa…
Mas nun cuideis q’ls moços i ls homes quedában atrás de las ties. Á pus si, buona jeira! Ambora nin tanto, tamien eilhes, se calhasse haber un cachico mais de denheiro na carteira, pa lhá de l ambriáren na compra dũa tierra, dun lhameiro, dun motor de rega ou mesmo dun trator, alhá íban amanhando maneira de cumprar tamien un apareilho de rádio, ũa bicicleta, ũa telbison, ũa moterizada i inda outras nobidades…
Yá que falemos dalguns apareilhos modernos i d’antretenimiento, nun puodo squecer-me inda d’amentar ne l gramophone que, ne ls anhos cinquenta de l seclo passado, a las bezes, s’oubie a tocar an casa de las armanas Marreiras, las donas Laura, Adelaide i mais dues, todas eilhas porsoras diplomadas. Fui tamien ne l pátio anterior de la casa deilhas que, pul final de ls anhos cinquenta i pula purmeira beç, bi ũa fita de cinema i la lhuç eilétrica. Ye que, pa lhá de la parte telhada i de la outra sin telhado desse pátio formáren un pequeinho anfitriato, la casa era almiada por lhámpadas pus tenie gerador d’eiletrecidade.
Ye ũa pena qu’esta casa, que fui un outéntico farol de cebelizaçon an Angueira i de que ls hardeiros fazírun doaçon al Munecípio de Bumioso, por obra de la Cámara i de la Junta, an paga, apuis de l ancéndio, an beç de recuperar las paredes ou, d’oumenos las porteger, las téngan mandado botar abaixo, deixando todo al abandono, eilhi, mesmo a meio de la poboaçon i ne l stado que podeis ber.
Nun bondando, cula çculpa de séren propiadade particular, nada fazéren pa recuperar ls açudes, caliendras, molinos – oumenos un deilhes de l seclo XIII –, casas de molineiro i doutras casas de bibir, que s’ancóntran an rúina pul termo, nas marges de la ribeira i na poboaçon d’Angueira, ye assi que, probes i, inda porriba, mal agradecidas, aqueilhas outarquies cuidan de l sou i nuosso patrimonho!
La Biblioteca Itinerante de la Fundação Calouste Gulbenkian
Fui tamien ne l ampercípio de ls anhos sessenta de l seclo passado que, pula purmeira beç, chegou a Angueira outra seinha de la bida moderna: un home i ũa moça nũa carrinha cinzenta, carregadica de lhibros pa ls amprestar als garotos, a las mocicas i a toda la giente que ls quegisse ler. Cumo, an letras grandes, se lie por fuora, oumenos nun de ls lhados de la carrinha, era la Biblioteca Itinerante de la Fundação Calouste Gulbenkian.
Benida de Caçareilhos, al chegar a Angueira, la carrinha seguie, de la eigreija i por Sante Cristo, pul pobo arriba, até la casa de la scola. Iba, assi, dũa punta a la outra de la poboaçon. Siempre a chubir, chegando al cimo de l pobo, l xofer paraba-la mesmo al lhado de la casa de la scola. Mal apitaba, las pessonas ampeçában a arrimar-se a la carrinha. Anton, la moça, que l’acumpanhaba, abrie la puorta de trás de la carrinha. Alhá drento, bien-se prateleiras i prateleiras chenas de lhibros, de bárias quelores, todos mui bien arrumados i dreiticos. Stou an crer que, pa lhá de las porsoras, naide mais tenie inda bido tantos lhibros juntos. Assi, na purmeira beç que la Biblioteca Itinerante chegou a Angueira, era ber las pessonas al redor deilha, de boca abierta i cun cara de spanto.
Mal béien chegar la carrinha, las garoticas i ls garoticos q’andában a la scola, que nin paixaricos a la spera de çubiaco, son ls purmeiros a arrimar-se; apuis, las mocicas; i, finalmente, algũas moças i ũa ou outra tie. Si, que ls moços i ls homes éran mais dados a outros antretenimientos: a jogar a la bola nas Eiras Grandes, a jogar la barra ne l Ronso, a jogar las cartas i a buer uns copos na taberna i inda outros de que nun balerá la pena ou será melhor nin amentar…
Nun serie de stranhar que, nas purmeiras bezes, algũas pessonas quedássen un cachico çcunfiadas i de pie atrás. Ye qu’inda habie pouco tiempo que tenie stado an Angueira un missonairo a fazer prédicas a la nuite na eigreija. I, nũa deilhas, qu’era subre la confisson, preguntaba el:
– Humberto Delgado confessava-se? – i el própio respundie: Não, esse não se confessava, não!…
Aton, deixando falar l bino – que pouco cumoquiera nun serie –, responde-le tiu Brisdo de l meio de l’eigreija:
– Esse nun se confessaba, nó!…
I, quaije gritando de l púlpito, l missionairo torna a preguntar inda outra beç:
– E Henrique Galvão confessava-se? Não, esse não se confessava, não!…
I, nun le deixando star solo el a falar, respunde-le outra beç tiu Brisdo:
– Á pus nó! Esse nun se confessaba, nó!…
Se calha, lhembrando-se de las prédicas de l missionairo, al béren la carrinha, algũas pessonas serien bien capazes de se preguntar: Nun será, pori, cousa de la giente daquel general de la Ouposiçon? Ora, bede bien: naquel tiempo, a nun ser ls de ls garotos pa la scola, quien mais tenerie lhibros an casa? Solo la giente fidalga, i nin toda, pus éran cousa mui rala i mi cara. I, cumo se questuma dezir, quando la smola ye grande, até l probe çcunfia… Sabie-se alhá l que starie screbido naqueilhes lhibros i por trás daquilho! Para mais, las pessonas nun stában aquestumadas a recebir nada de naide i, de la Cámara i de l Gobierno, só recebien la décima, las licéncias i multas, ou seia, cuntas pa pagar!… Aton, algũas deilhas apréssan-se a preguntar al cura – l padre Silbestre –, a la porsora – la dona Laura –, al persidente de la Junta – l senhor Correia –, al regedor – l tiu Chic’Albino – i, se calha, até mesmo al senhor Joan Capador, l que serie aquilho. Mas, bá lá que niun deilhes trociu la nariç a la nobidade.
Quedando a saber qu’era cousa de cunfiança, yá mais çcansadas, apuis, ũa beç por més, cerca de la casa de la scola, de la capielha de Sante Cristo ou de la Eigreija – ls trés sítios de l pobo adonde la carrinha questumaba parar an Angueira – las mocicas, ls garotos i algũas ties, mal chega la Biblioteca Itinerante, lhougo s’arríman p’antregar a la moça ls lhibros que yá tenien lido i pa lhebantar outros qu’eilha les acunselha a lhebar pa ls ler an casa.
Represa de l sistema d’eirrigaçon d’Angueira. Retrato tirado pula amiga Fátima Malheiro a quien agradeço por me tener outorizado a publicá-lo.
Pul final de ls anhos sessenta, ampeçou aqueilha que, cumoquiera, tenerá sido la mais amportante obra que, ne l tiempo Salazar, l Goberno mandou fazer an Angueira: l sistema d’eirrigaçon; la represa na çuda de l molinho, al lhado de las casas de l tiu Alfredo de l Molino, de l tiu Antonhico i de la tie Sabelica, al fondo de Terroso i al cimo de la Yedra; i l canal de la eirrigaçon – todo an cantarie, mas assente an piedra piçarra –, cun cerca de trés quilómetros de cumprimento. Seguindo pula marge dreita de la ribeira i passando pul cimo de las huortas, l sistema d’eirrigaçon d’Angueira possiblitou passar a regar pul pie las huortas i lhameiras de la mesma marge de la ribeira: las de la Yedra, d’Ourrieta Caliente, de la Senhora, de l Tanque, de la Cabada, de la Eigreija, de l Cachon, de la Çanca, de la Salina, de la Mediana, de la Faceira i de las Uolmedas.
Canal de l sistema d’eirrigaçon d’Angueira un cachico arriba de la puonte de la Yedra, d’Ourrieta Caliente. i de l Pilico de Fuontecinas. Retrato tirado pul amigo Vítor Moreira a quien agradeço por me tener outorizado a publicá-lo.
Fui tamien pul final de ls anhos sessenta, que la Cámara de Bumioso ampeçou a calcetar la rue, que, nesse tiempo, era la percipal d’Angueira i que, de l’Eigreija, passando pul Cachon i Sante Cristo, bai a dar al cimo de l pobo. Mas, la purmeira parte dessa obra, só chegou a la capielha de Sante Cristo.
L 25 de Abril truxo outros progressos a Angueira: la Cámara Munecipal de Bumioso cumpletou l calcetamiento de la rue percipal antre la capielha i l cimo de l pobo i, uns anhos mais tardc, mandou botar alcatron nas restrantes rues d’Angueira; amanhou ls caminos de l termo d’Angueira; mandou botar alcatron na strada antre Caçareilhos i Angueira. Yá culs Fondos de la CEE, mandou fazer la strada de lhigaçon d’Angueira a Abelhanoso, las Trés Marras i Samartino i la strada de San Joanico até la Cruzica, ũa nuoba lhigaçon antre Angueira i Bumioso; mandou custruir la scola nuoba; mandou fazer l sistema de saneamento d’Angueira. Por sue beç, la Associaçon Cultural i la Junta de Fraguesie d’Angueira mandórun fazer, antre la fuonte de l Pilo i l largo de l Ronso, l salon de cumbíbio, l bar i la sede dambas a dues.
Apuis destas i doutras obras que, subretodo ls eimigrantes fúrun fazendo an sues casas, las pessonas passórun a tener melhores cundiçones de bida i comodidades an casa i mesmo na lhaboura. Assi i todo, Angueira, cumo las poboaçones de la Tierra de Miranda i de l Nordeste Stramuntano, debido a la salida de ls studantes i de la giente nuoba, a la deminuiçon de ls nacimientos i a la muorte de ls mais bielhos, fúrun perdendo muitas pessonas i quedando cada beç mais çpoboadas.
Assi, tamien you sou lhebado a dezir cumo screbiu Eça de Queirós, aquel grande outor a que nun le faltaba Cebelizaçon, ponendo Jacinto a tocar l fonógrafo que nun se cansaba de repetir la boç de l cunselheiro Pinto Porto: Quien nun admirará ls progressos deste – ou, dezindo talbeç melhor, daquel – seclo?
Bocabulairo \\vocabulário
Abaluar – avaliar \\ abaixar-se – abaixar-se \\ abaixo – abaixo \\ abiado – servido, despachado \\ açucre – acúcar \\ acuordo – acordo \\ adbinar – adivinhar \\ aire – ar \\ alantre – em frente, avante \\ alborotado – alvoroçado \\ alhá – lá \\ almiado – iluminado \\ al redor – à volta \\ alredores – arredores \\ ambencion – invenção, inovação \\ ambriar – aplicar, gastar \\ amentar – referir, mancionar, falar \\ ampeçar – começar \\ ampedir – impedir \\ ampercípio – princípio \\ ancanhada – canalizada \\ anganhar – enganar \\ antes de tiempo – prematuramente \\ anton/aton – então \\ antrar – entrar \\ antre – entre \\ aparcer – aparecer \\ apartar – separar \\ apuis – após, depois \\ armano – irmão \\ arrimar – aproximar \\ ateimar – teimar \\ auga – água \\ balhe – vale \\ barreira – encosta \\ beç – vez \\ belharaça – maluqueira \\ berano – verão \\ bielho – velho \\ bien – bem \\ boç – voz \\ bonda – (forma do verbo “bondar”) basta \\ botar-se – pôr-se (a caminho) \\ buolta – volta \\ cachico – pouquinho \\ calhar – calar, acontecer por acaso \\ caliente – quente \\ çcansar – descansar \\ (ç)coincido – (des)conhecido \\ çculpa – desculpa \\ çcunfiar – desconfiar \\ cebelizaçon – civilização \\ çfalhecido – desfalecido, moribundo \\ çfazer – desfazer \\ çfréncia/r – diferença/ciar \\ çfrente/mente – diferente/mente \\ çfruitar – desfrutar \\ chano – chão \\ chuber – chover \\ chubir – subir \\ cielo – céu, firmamento \\ coincer – conhecer \\ colgado – suspenso, pendurado \\ cortina – terreno fértil cercado por muros de pedra \\ çpachado – despachado \\ çpedir – despedir \\ çpindurado – dependurado \\ çpique – despique \\ çpoboado – despovoado \\ çponer – dispor \\ çposiçon – disposição \\ çtáncia – distância \\ çtribuir – distribuir \\ çuda – açude \\ cula – com a \\ cumoquiera – talvez \\ cuolmo – colmo, pequeno feixe de caules de centeio \\ custante – constante \\ danhado – atrevido, danado \\ dar a la pata – fugir, escapar \\ da peto – de propósito \\ debagarico – lentamente \\ debertimento – divertimento \\ deç – desde \\ deimingo – domingo \\ dezir – dizer \\ dũa – duma \\ eigual – igual \\ eilha – ela \\ eilhi – ali \\ eimbierno – inverno \\ eiqui – aqui \\ feitiu – feitio \\ fondo – fundo \\ fugon/es – fogão/ões \\ fuolha – folha \\ fuora – fora \\ grabe – Português \\ halbelidade – habilidade \\ hardar – herdar \\ huorta – horta \\ jinela – janela \\ l/la – o/a \\ lhá – lá, além \\ lhabar/deiro – lavar/lavadeiro \\ lhabrar – lavrar \\ lhadeira – encosta \\ lhado – lado \\ lhameiro – lameiro \\ lhana – lã \\ lheitura/lher – leitura/ler \\ Lhéngua – Língua (Mirandesa) \\ lhida de casa – lida de casa \\ lhuç – luz \\ manhanha – manhã \\ manelo – porção de lã ou estriga de linho que se coloca na roca para fiar \\ mano – mão \\ mercido – merecido \\ mi/mie/miu – muito/mim/minha/meu \\ moda – canção, música \\ nin – nem \\ nobidade – notícia, novidade, invenção \\ nũa – numa \\ nuobas – novidades, notícias, novas \\ ócalos – óculos \\ oulhar – olhar \\ oumenos – pelo menos \\ outéntico – autêntico \\ outor – autor \\ pa – para \\ padroneiro – padroeiro \\ paixarico – passarinho \\ parcer – parecer \\ parriba – para cima \\ pequeinho/pequerrico – Pequeno/pequerrucho \\ percura – procura \\ perra/o – cadela/cão \\ pessona – pessoa \\ pie – pé \\ poner – pôr \\ pongo (verbo poner) – ponho \\ porriba – por cima, do lado de cima \\ porparado – preparado \\ poular – saltar \\ Praino – Planalto (Mirandês), plano \\ proua – vaidade \\ presson – pressão \\ pul/a – pelo/a \\ puolo de lhabar la roupa – detergente \\ purmanhana – ao alvorecer \\ pus – pois \\ quegirdes/quegisse – (formas do verbo querer) quiserdes/quisesse \\ quemunicaçon – comunicação \\ questura/eira – costura/eira \\ ralo – raro \\ respuosta – resposta \\ restrante – restante \\ scaleiras – escadas \\ sclarecer – esclarecer \\ scuitar – ouvir \\ sculhir/do – escolher/ido \\ scuma – espuma \\ seclo – século \\ seinha – sinal \\ selombra – sombra \\ sequiera – sequer \\ sfergante – instante \\ smola – esmola \\ solo – só \\ soudade – saudade \\ spácio – espaço \\ sperteza – inteligência \\ spormentar – experimentar \\ squina – esquina, canto exterior de uma casa \\ star – estar \\ streilha – estrela \\ stubo/isse (verbo star) – esteve/ivesse \\ subrebibir – sobreviver \\ subreciente – suficiente \\ talbeç – talvez \\ tejeiras – tesoura \\ tempra – têmpera \\ trato – contrato oral \\ truxo – (forma do varbo “tra(z)er”) trouxe \\ uolho – olho \\ xabon/ete – sabão/sabonete \\ xaragon – colchão de palha de centeio ou de folha de milho (designação que se dava em Angueira) \\ xofer – condutor de automóvel \\ yá – já \\ ye – (forma do verbo ser) é \\ yerba – erva \\ you – eu \\ zafertunadamente – lamentavelmente \\ zafio – desafio \\ zalmado – desalmado \\ zaparcer – desaparecer \\ zapuntado – desapontado \\ zasperado – desesperado \\ zaugar – desaguar
Para saber o significado de outras palavras, sugiro a consulta do sítio
Se o/a leitor/a não está familiarizado/a com a Língua Mirandesa, sugiro que, para facilitar a compreensão do texto, o leia a meia-voz. Se, mesmo assim, sentir qualquer dificuldade em compreender o sentido ou descobrir o significado de alguma palavra menos usual ou cuja grafia se afasta maisda portuguesa, não hesite em consultar o Vocabulário que pode encontrar no final do mesmo.
Breves notas sobre a grafia do Mirandês
Em Mirandês, não se pronuncia o som v, que é substituído pelo da letra b; usualmente, o prefixo des é substituído, consoante os casos, por ç ou z no início da palavra; para não se confundir com a contração da preposição a com o artigo definido o, que, em Mirandês, se escreve e lê al, o artigo definido o escreve-se l, mas lê-se também al; salvo raras exceções, os ditongos nasais ão e õe escrevem-se an e on; o m final das palavras portuguesas é, no Mirandês, substituído pela letra n; geralmente, o l inicial das palavras é substituído pelo dígrafo lh; já o dígrafo ch, em Mirandês, lê-se sempre tch; talvez por, inicialmente, ser apenas uma língua falada, o Mirandês tende a contrair os pronomes, artigos, preposições e as conjunções com as palavras seguintes, quando estas são iniciadas por vogal.
Antroduçon
Lhembrar eipisódios de la bida de las pessonas d’Angueira dantigamente ye ũa maneira, indas que sencielha, de las houmenagear i nun las deixar squecer.
Un home, ou melhor, qualquiera pessona, ye l que ye i cumo ye, debido al tiempo an que lhe calhou bibir, a la tierra adonde le tocou nacer, crecer i morar, a las situaçones de bida i a las relaçones que, ampeçando puls sous fameliares, fui alhargando a las pessonas de la poboaçon i a la gente doutros lhugares, séian eilhes bezinos ou séian mais çtantes.
Indas que, de garotos, mos pareça que l tiempo anda a passo de caracol, apuis, de bielhos, çforra-se cumpletamente pus parece mesmo que nun hai quien pare ls dies. Assi, de pitico a polho calçudo i, apuis, de galharote a galho bielho, cumo pa qualquiera un, fui solo ũa queston de tiempo pa tiu Zé Pitascas.
Çape gato
Inda rapaç sulteiro, quaije todas las nuites, nun se squecie el d’ir a petiscar a casa dũa moça que, de die, andada c’ũa cabrada. I era a eilha que, a la nuitica, cula cabrada ancerrada ne l curral, le tocaba tamien ourdenhar todas las cabras paridas i, inda porriba, a las scuras. Bá, todas, ye cumo quien diç… i yá bereis porquei!
Nun ye q’ũa beç eilha s’agarrou al amoije de l beche i, al apertá-lo cun fuorça antre las patas traseiras, l bicho pon-se a mexer-las i zata a berrar i nun habie modo de se calhar: “béé!… béééé!… béééééé!…”.
Aton, diç-le eilha:
– Nin béééé, nin meio béé!… Nun me steias acá a amolar! Bien sabes que dar tenes que l dar, pus tener tenes-lo cumo las outras!…
Mas, de lheite, nin sequiera un repincho. Até que, tornando a ampalpá-lo, alhá se zanganhou. Assi, nun tubo outro remédio senó lhargar l amoije de l bicho. Nun fusse, pori el, dar-le ũa marrada…
Cumoquiera, pa Zé Pitascas, essa moça serie un cachico mais meiga que pa l sou beche. L que staba cumbinado antre eilhes ye qu’el, de l patamar al cimo de las scaleiras de fuora de la casa deilha, antrarie pula jinela que daba pa l sobrado, pa l sítio adonde eilha questumaba drumir, i qu’eilha la deixarie antreabierta ou antrecerrada, cunforme bos agradar mais.
Nũa nuite, l armano mais nuobo de la moça, qu’era inda garotico i drumie mesmo al lhado deilha, oubindo la cama a rugir i la armana i un moço a bufar, spertou. Mas, todo calhadico, stubo mais un cachico d’oubido a la çcuita. Anton, na manhana a seguir, birando-se para eilha, diç-le el:
– Oulha que, onte a la nuite, you bien t’oubi cun rapaç na cama!…
Anton, eilha lhougo amanhou maneira de l calhar:
– Que stás par’ende a dezir, sou chabasquico?! Stubiste a sonhar ou quei?! Calha-te, nun seias chochico! Parece q’agora andas a oubir demais!…
Oulhai que, neste causo, l raio de l garoto, nun tenendo nada de nécio, era bien capaç de – cumo se falasse dun ganado ou dũa buiada, bien anhos mais tarde, dirie un garoto doutra poboaçon de ls alredores d’Angueira – se botar de cuntas i dezir cumo el: “Carai! Agora, ye que bamos a quedar ricos! Mie mai paire todos ls anhos i, agora, la mie armana mais bielha acabou mesmo de se cubrir!…”
Se calha, ambos ls garotos tenien rezones de sobra pa pensar assi. I sabeis l q’ũa beç, quando un anfermeiro le dixo que yá habie maneiras de cuntrolar essa cousa, l pai desse tal garoto doutro pobo le respundiu?
– Carai, home! Mas l q’hei de you de fazer? P’amprenhar la mie tie, bonda que you bote las calças an riba de la cama?!
Cumoquiera, por aqueilha moça ser de l’arte pa la cousa essa, habie yá algun tiempo que, nun sei se, por le tenéren assoprado algo al oubido ou s’el tenerá bido, pori, algũa cousa, sou pai andaba çcunfiado de que la filha mais bielha andarie metida i a fazer algũa marosca c’un rapaç. Mas, nin sequiera le palpitaba quien serie l zabergonhado. Anton, ũa nuite, apuis deilha s’ir a deitar, trata de poner un lhato cheno d’auga pul lhado de drento de la jinela que daba pa l sobrado i queda d’oubido a la scuita a ber s’apanha l çafado.
Cumo de questume, nessa nuite, Zé Pitascas, mui debagarico i sin fazer niun rugido, alhá chube las scaleiras até l patamar. De seguida, ancarrapita-se na jinela i salta pa l sobrado. Mas, nun stando a cuntar cu’la rateira que l’habien armado, al passar pa l lhado de drento, speta ls pies ne l lhato. Quedando culs meotes todos molhados, pa naide çcunfiar de l que se staba a passar, pon-se, anton, a çfarçar:
– Miau!… Miau!… Miau!…
Miaba tan bien que, s’ũa gata cun cio l’oubisse, se chegarie lhougo a el cuidando qu’era un gato pronto a saltar i a chubir pa l lhombo deilha.
Oubindo miar, l pai de la moça, que staba cerca deilhi, ne l corredor, a las scuras, scundido i a la spreita, cuidando ser mesmo un gato, nin sequiera se dou al trabalho d’acender la candeia, diç:
– Çape, gato! Raisparta al gato! Desta beç, tubiste azar! Nun era para ti, mas inda bien que fuste tu que caiste na rateira! Oulha, pacéncia! Quien ye que te mandou antrar?!
Ambora nessa nuite la cousa tubisse ampeçado mal, Zé Pitascas i la moça acabarien por salir-se bien i çafar-se. Assi i todo, inda petiscórun un cachico! I, cun aquel “miau”, l pai de la moça quedou cumbencido de que nun balie la pena nin habie rezon pa çcunfiar de la filha.
Apuis de casado, tiu Zé Pitascas, la sue tie i ls sous quatro filhos bibien nũa casica houmilde, apegada a la de la tie Adozinda Cacaitas, al cimo de la caleija que, pula parte de baixo i de trás, riente a las casas, bai de la garaige de las armanas Marreiras i de l senhor Correia até un cachico mais arriba de la parte de trás de la casa de l tiu Manuel Júlio, ne l cimo de l Cachon.
Tal cumo sue mai, tamien tiu Pitascas quedou biúdo mui nuobo. Inda me lhembra de l antierro de la tie Chebica, cumoquiera you nin andarie a la scola. Solico, sin mais naide, eiceto sue mai, que le botasse ũa mano, alhá tubo el que, fazendo de pai i mai, s’amanhar i cuidar, cumo pudo, de ls quatro filhos que quedórun al sou ancargo. Cuntinou a bibir na caleija, adonde, antes de s’ajuntar cul tiu Mantano, moraba tamien la tie Adozinda Cacaitas. Ambas a dues pul lhado de baixo i antre la casa de l tiu Manuel Júlio i la de l senhor Correia, la dona Delaide i sue armana, la dona Laura, éran ũas casicas pequeinhas i probezicas que nada tenien a ber cu’las desta gente fidalga.
Cula ajuda de dous burricos, tiu Pitascas alhá iba fazendo pula bida. Trataba dũas lhaticas i lhabraba ũas terricas de centeno i ũa ou outra de trigo. I, assi, alhá fui matando la fame i criando ls sous filhos. f
Inda dou fé de, antes i apuis de la missa de deimingo, el andar al redor de l cura i de l altar-mor de l’eigreija, a acender i apagar las belas, i, ne ls antierros, ser el que, a las bezes, lhebaba la caldeirica de l’auga benta.
L chapéu dun home fai mui falta na preça de casa
Cumo toda la gente sabe, quien, de nuobo, daprende a andar de bicicleta, de meia eidade ou de bielho, nun se le squece. I stá bien de ber que, cumo todo mundo, tamien ls biúdos ténen las sues necidades. Cumoquiera por bias disso, pa se çpachar culas ties, tiu Pitascas, an beç de botones, usaba muolas p’apertar i zapertar las calças.
De l outro lhado de l Ribeiro de l Balhe, yá an Saiago, bibie ũa biúda que, tal cumo a tiu Pitascas, le tocaba tamien a eilha passar las nuites solica. Sendo ambos a dous inda quaije nuobos, niun deilhes staba bien. Assi, nun les bondando caldo i palheiro, amanhórun aton maneira de se ponéren a tratar de las cuntas de l negócio.
Era de sues casas, birados un pa l outro, caras al camino antre la huorta de la tie Marie Santa de l fondo de l Pilo i la fuonte de la Eigreija que, cun todo l cuidado pa que naide les bisse, por seinhas antre eilhes, cumbinában s’ancuntrar.
Huortos i casas de l Cachon. Al meio, passa l ribeiro de l Balhe que debide Sante Cristo, a la squierda, de Saiago, a la dreita.
Aton, a la nuitica i a las scundidas de la gente, tiu Pitascas, ancarrapitando-se i passando pul jinelo, que de la casa deilha dá pa la rue, antraba pa la casa dessa tie. I, oumenos d’eimbierno, passado un cachico, trocando l borralho pula cama, anroscados el i eilha, passában, assi, la maior parte de la nuite bien acunchegadicos i mais calenticos.
Nũa manhana, cerca de la casa de la Ti’Ana Luísa, passa por el un amigo que, bendo-le ũa manchica de sangre seco na careca, le pregunta:
– Á Zé, que te fazírun na cabeça, home?
Apanhado, assi, sin cuntar, respunde-le el, de pronto, todo anrezinado i apuntando pa la casa dessa tie de l outro lhado de l ribeiro:
– Onte, a la nuite, apanhei acá un peladeiro al passar pul raio daquel jinelo!…
Nun le faltaba a el rezon pa se queixar pus, sendo baixo, franzino i calbo, yá solo le restrában ũas repas cumpridas, abaixo de las oureilhas i a la buolta de la cabeça, pa çfarçar la careca. Mas, por bias de l bento, sbolaçando cun muita facelidade, las repas stában quaije siempre a strampalhar-se-le pula cara. Qual serie la rezon del ser tan calbo? Quien sabe se nun serie, pori, de tantas nuites antrar pa la tie pul tal jinelo?!…
Sabendo bien la falta que le fazie un home an casa, amostrando sou aprécio por el, lhamuriaba-se essa tie:
– L chapéu dun home fai muita falta, pus ampon respeito i anfeita ũa preça de casa!…
Cumo se bei, un i outra ajuntórun, assi, la fame a la buntade de quemer!
Tengo acá para mi que, se, nesse tiempo, quando, de biúdos, l tiu Zé Pitascas i essa tie andában yá nestas brincadeitas, l soudoso Demingos Purpeto, an beç de garoto, fusse yá moço, cul jeito que tenie para ambersar las cousas, serie bien capaç de nun quedar sin les fazer ũas trobas pa, ne l arraial de la fiesta de Nuossa Senhora, ls moços se ponéren a declamar pa toda la gente oubir:
– La tie Z…. i l tiu Pitascas,
Fazírun la cumbinaçon
De se botáren a brincar
A las nuites ne l xaragon.
A seinha dun i de la outra
An cada lhado de l Cachon,
Cumbinában qu’essa nuite
Íban a rezar cun deboçon.
Antraba el pul jinelo,
An meotes pul sobrado,
Mete-se na cama deilha
Caliente que nin borralho.
Pa naide ber nin çcunfiar,
Nin spertar las garotas,
Passante de la meia nuite
Toca a dar cambalhotas.
Cun todos ls cuidados
I debidas precauçones,
Alebían an casa deilha
Todas las sues tentaçones.
Un die, l senhor Correia, bendo, de drento de la garaige, l tiu Zé Pitascas a passar pa la caleija que daba pa la casa del, chama por el i, pa se dar aires i amostrar la sue amportáncia, diç-le:
– Sabes, Zé, quando estive em Santarém…
Bai tiu Zé Pitascas, nin le deixando acabar l que le querie dezir, lhougo le retrucou:
– Á senhor Correia, eu sempre oubi dizer: quem bai a Santarém, se burro bai, burro bem!…
Inda el nun era mi bielho, quando chegou la sue beç d’antregar la alma al Criador. Seguiu-se-le, uns anhos apuis, l sou filho mais nuobo, Zacarias, qu’era dous ou trés anhos mais bielho que you. Sendo rúbio i xardoso, cumoquiera cumo sue mai, tenerá sido essa la rezon de ponéren a este sou filho l’alcunha de Chebico. Afertunadamente, ls outros filhos – Manuel, que casou i mora an Caçareilhos, Moisés i Marie Rosa Pitascas, que bíben an Spanha –, son inda bibos.
Bocabulairo \\ vocabulário
A búltio – ao acaso \\ acauso – por acaso \\ acá – cá \\ acupar – ocupar \\ acunchegadico – aconchegadinho \\ adbertir/do – divertir/ido \\ adbinar – adivinhar \\ aire – ar \\ ajuntar-se – reunir-se \\ al/s – ao/s \\ alebiar – aliviar \\ alhá – lá \\ alhebantar – levantar \\ al redor/alredores – em redor/arredores \\ amanhórun – (forma do verbo amanhar) arranjaram \\ amentar – mencionar \\ amoje – úbere \\ amostrar – mostrar \\ ampeçar – começar \\ amportar – interessar, importar \\ amposiçon – imposição \\ amprenhar – fecundar \\ ancapaç – incapaz \\ ancarambelado – (enre)gelado \\ ancargo – encargo \\ ancarrapitar-se – subir, encarrapitar-se \\ ancuntrar/o – encontrar/o \\ andubíran – (forma do verbo andar) – andaram \\ anfeitar – enfeitar \\ anfeiteçado – enfeitiçado \\ anganhar – enganar \\ angaranhido – tolhido de frio \\ anho – ano \\ anquietar – perturbar \\ anrezinado – arreliado \\ antender – entender \\ anterrumper – interromper \\ antierro – enterro, funeral \\ anton/aton – então \\ antrecerrada – meio fechada \\ antretener – entreter \\ antrometer-se – intrometer-se \\ apoquentar – preocupar \\ aprécio – apreço \\ apuis – após, depois \\ armano – irmão \\ arriba – acima \\ arrimado – encostado \\ asparecer-se – parecer-se \\ atabano – atavão, inseto que ataca o gado bovino e asinino \\ assi i todo – mesmo assim, apesar disso \\ atanazar – perturbar \\ auga – água \\ barranca – desnível de terreno numa ou entre propriedades \\ beç – vez \\ beche – bode \\ belharaça – maluqueira \\ benir – vir \\ bergóntia – rebento de árvore \\ bezino – vizinho \\ bia – via \\ bicioso – viçoso \\ bila – vila, neste caso, a de Vimioso \\ biúdo – viúvo \\ boç – voz \\ bolar – voar \\ bondar – bastar \\ borga – pândega \\ bordica – bordinha \\ botar-se de cuntas – pôr-se a pensar \\ buiada – boiada \\ buído – bebido \\ búltio – vulto \\ buolta – volta \\ buntade – vontade \\ çafar-se – livrar-se de apuros \\ calbo – calvo, careca \\ caldo i palheiro – comida e dormida \\ calhar – calar \\ camino/ar – caminho/ar \\ caliente – quente \\ capaç – capaz \\ çape – foge \\ carabineiro – agente da Guarda Civil de Espanha \\ carreiron – carreiro \\ çcair – descair \\ çcansadico – descansadinho \\ cena(r) – ceia (cear) \\ centeno – centeio \\ çfarçadamente – disfarçadamente \\ çfarçar – disfarçar \\ çforrar-se – desforrar-se \\ chimpar – atirar \\ chin – colo \\ chochico – tolinho \\ chougarço – chaguarço (planta selvagem rasteira) \\ chubir – subir, ir para cima, montar \\ ciroulas – ceroulas, cuecas \\ coincer – conhecer \\ coquelhada – ave semelhante à cotovia \\ coraige – coragem \\ cortina – terra de cultivo cercada por muros \\ cozina – cozinha \\ çpachar – despachar \\ çtáncia – distância \\ çtino – destino \\ çtraído – distraído \\ cũa – com uma \\ cubrir – fecundar, cobrir \\ çuda – açude \\ cul – com o \\ cu’la – com a \\ cu’el/cu’eilha – com ele/com ela \\ cumoquiera – talvez \\ cun – com \\ cunsante – consoante \\ cunta – conta \\ cuntrairo – contrário \\ curriça – construção quadrada ou retangular, com paredes altas de pedra (xisto granito) solta, existente no termo, para, no inverno, abrigar e guardar o rebanho \\ defrénciar – distinguir \\ defrente – diferente \\ deilha/es – dela, deles \\ deimingo – domingo \\ del – dele \\ Demingos – Domingos \\ die – dia \\ Dius – Deus \\ dreita/o – direita/o \\ drumenhuoco – dorminhoco \\ dũa – de uma \\ eidade – idade \\ eilhi – ali \\ eisceto – excepto \\ el – ele \\ ende – aí \\ fame – fome \\ fenanco – erva meio seca \\ fita – filme \\ fizo – (forma do verbo fazer) – fez \\ frezno – freixo \\ frie – fria \\ friu – frio \\ fróncia – rebento de árvore \\ fuonte – fonte \\ fuora – fora \\ fusse na fita – fosse levado na conversa \\ ganado – rebanho \\ garrafonico – garrafão pequeno, de cerca de dois litros \\ gustar – gostar \\ huorta – horta \\ lhabrar – lavrar \\ lhadeira – encosta \\ lhatica – pequena horta, estreita e comprida \\ lhato – balde \\ lheite – leite \\ lhembrar – lembrar \\ lhibrar – livrar \\ lhobo – lobo \\ lhugar – lugar, localidade \\ lhuna/r – lua/r \\ halbelidoso – habilidoso \\ mala – má \\ maçana/eira – maçã/cieira \\ mandil – avental \\ manhana – manhã \\ mano – mão \\ marosca – artimanha \\ melon – melão \\ meote – meia que dá até ao meio da perna \\ mortico – mortinho \\ mos – nos \\ muola – mola \\ naide – ninguém \\ necidade – necessidade \\ nécio – néscio \\ niebe – neve \\ nin – nem \\ ningũa/ningun/niun – nenhuma/nenhum \\ nin sequiera – nem sequer \\ nistante – num instante \\ nó/nun – não \\ nomeada – fama \\ nuite – noite \\ olga – parte ligeiramente mais baixa, fértil e fresca de terra entre montes \\ oumenos – pelo menos \\ ourdenhar – ordenhar \\ ourrieta – pequeno vale \\ pa – para \\ pa lhá – para além \\ paç – paz \\ paçparoteira – dedaleira (planta herbácea medicinal) \\ paire – forma do verbo parir \\ parcer – parecer \\ parcido – parecido \\ parreira – videira \\ pequerruchico – pequenito \\ percisar – precisar \\ pie – pé \\ piel – pele \\ pobo/açon – povo, povoação \\ pori – por azar, porventura, talvez \\ porparar – preparar \\ porlantre – avante \\ porriba – por cima \\ preçade casa – pátio de entrada da casa \\ pul/pula – pelo/pela \\ purmanhana – ao alvorecer \\ purmeiro – primeiro \\ pus/puis – pois \\ quaije – quase \\ qualquiera – qualquer \\ quedar – ficar \\ quei – o quê \\ quemer – comer \\ quemezaina – comezaina \\ queto – quieto \\ quien – quem \\ quienquiera – qualquer pessoa \\ rapaç – rapaz \\ rateira – ratoeira \\ razones – razões \\ reciu – ar fresco e húmido da madrugada junto aos cursos de água \\ relhance – relance \\ repunso – oração fúnebre \\ repas – fios raros de cabelos \\ respunder – responder \\ rezon(es) – razão(ões) \\ riba – cima \\ riente – rente \\ rúbio – ruivo \\ rugido – ruído, barulho \\ rúin – ruim \\ rumper – romper \\ salir – sair \\ sastifeito – satisfeito \\ scaleiras – escadas \\ scapar-se – fugir \\ scola – escola \\ scuitar – escutar \\ sculhir – escolher \\ scunder – esconder \\ scuro – escuro \\ selombra – sombra \\ sencielho – singelo \\ senó – senão \\ sequiera – sequer \\ sfregante – instante \\ siete – sete \\ sin – sem \\ sobrado – soalho, andar de cima da casa \\ soutordie – no dia seguinte \\ sparrielha – armadilha \\ special – especial \\ spetar – espetar \\ spertar – despertar \\ squecer – esquecer \\ strampalhar – desalinhar, desorganizar, espalhar \\ stantico – instante \\ stranha/r – estranha/r \\ streilha – estrela \\ stremunhado – adormecido \\ strobilho – estorvo \\ stubírun – (forma do verbo “star”) estiveram \\ stubísse – (forma do verbo “star”) estivesse \\ subretodo – sobretudo \\ suorte – sorte, propriedade herdada \\ talbeç – talvez \\ temprano – temporão \\ tentaçon – tentação \\ trocer – torcer \\ tropa – trupe \\ tubírun – (forma do verbo “tener”) tiveram \\ tubísse – (forma do verbo “tener”) tivesse \\ ũa – uma \\ uito – oito \\ uobo – ovo \\ uolho – olho \\ uorfo/a – orfão/ã \\ xaragon – enxergão, colchão feito de colmo de palha \\ xardoso – sardento \\ yá – já \\ ye – (forma do verbo ser) é \\ yerba – erva \\ zabergonhado – desavergonhado \\ zanjuar – tomar o pequeno almoço \\ zanjun – pequeno almoço \\ zaparecer – desaparecer \\ zafertunadamente/zgraciadamente – infelizmente \\ zanganhar – desenganar \\zapertar – desapertar \\ zbiar – desviar
Para saber o significado de outras palavras, sugiro a consulta do sítio
Se o/a leitor/a não está familiarizado/a com a Língua Mirandesa, sugiro que, para facilitar a compreensão do texto, o leia a meia-voz. Se, mesmo assim, sentir qualquer dificuldade em compreender o sentido ou descobrir o significado de alguma palavra menos usual ou cuja grafia se afasta maisda portuguesa, não hesite em consultar o Vocabulário que pode encontrar no final do mesmo.
Breves notas sobre a grafia do Mirandês
Em Mirandês, não se pronuncia o som v, que é substituído pelo da letra b; usualmente, o prefixo des é substituído, consoante os casos, por ç ou z no início da palavra; para não se confundir com a contração da preposição a com o artigo definido o, que, em Mirandês, se escreve e lê al, o artigo definido o escreve-se l, mas lê-se também al; salvo raras exceções, os ditongos nasais ão e õe escrevem-se an e on; o m final das palavras portuguesas é, no Mirandês, substituído pela letra n; geralmente, o l inicial das palavras é substituído pelo dígrafo lh; já o dígrafo ch, em Mirandês, lê-se sempre tch; talvez por, inicialmente, ser apenas uma língua falada, o Mirandês tende a contrair os pronomes, artigos, preposições e as conjunções com as palavras seguintes, quando estas são iniciadas por vogal.
Agradecimiento
Oubrigado als amigos Carlos Rodrigues, Marie Rosa Rucica, Guilherme Crespo i Marie Rosy Barata, filha de l tiu Antonho Uorfo i de la tie Lurdes Rucica i nieta de la tie Uorfa i de l tiu Nobenta, a mius armanos Eimílio i Aquilino, als mius primos Aran Stebes, filho de mie tie Sabel Quintanilha i de l tiu Moisés Steba, i a Chico i a Toninho, filhos de la tie Eulália i de miu tiu Eimílio, i inda a miu cunhado Antonho Coiro, por me tenéren lhembrado dalguns eipisódios de la bida de l tiu Zé Pitascas i de sous pais – la tie Marie Rosa Uorfa i l tiu Manuel Joquin, coincido pula alcunha de Nobenta – que you nun sabie ou de que yá staba çquecido.
Subre las peripécias de la bida de l tiu Zé Pitascas screbi trés testos: un subre l’anfáncia – L Coquelhadico; outro subre la mocidade – Las Almas Penadas. Ũa Cousa de l Outro Mundo; i inda outro subre la bida adulta – Ls Namoricos de l Tiu Zé Pitascas. Pa ls antender melhor, acunseilho las/ls mies/mius amigas/os a seguir la orde de lheitura de la lhinha de l tiempo. Las stórias cu’estes títalos dízen tamien respeito a sous pais, armanos i filhos. Assi, ye quaije cumo se tratasse de la stória de la sue família.
L Coquelhadico
Nũa tarde caliente de l meio de maio, la tie Uorfa i l sou home, l tiu Nobenta, cada qual nũa béstia de la sue pareilha, bótan-se pul termo d’Angueira, ne l camino que, de Boca ls Balhes, passando pula Rebolheira i pul Milho, bai a dar pa Bal de Xardon i pa la Bouça. Nun tenendo quien tomasse cunta de l nino an casa, la mai, assentada nel sou jemento, lhieba l sou Zezico a drumir ne l xal i al chin.
Passante la cortina i apuis l lhameiro de ls Sidórios, a la dreita, i la binha de l tiu Antonho Carai i apuis ls lhameiros de la tie Piadade Zorra i de ls Coiros, a la squierda, chégan a la Rebolheira.
Na ancruzelhada deste camino cul que, de la Chana, passando por eilhi, pul fondo de l Cabecico de la Bilha i por Ourrieta Cabada Rigueiro, dá pa la ancruzelhada de l Rodelhon, nun sfergante, nun sei s’a eilha, s’al sou home ou s’a ambos a dous, l que les tenerá passado pula cabeça… Cumoquiera les dou na gana de se botáren a fazer aqueilha cousa que própia d’homes i de ties, mas tamien dalguns moços i moças i que stareis yá a eimaginar qual serie… Cuido que nun serie cousa yá cumbinada antre eilhes, mas que les dou, anton, na belharaça. Si, qu’estas cousas son siempre buonas d’acuntecer… Mas, berdade seia dita, fui tiu Nobenta que, birando-se pa la sue tie, le diç a tie Uorfa:
– Ah, Marie Rosa, debes star bien cansadica! Ye que l nuosso nino yá stá mi grande i pesa!…
– Á pus pesa pesa, Joquin! I nun admira nada pus nun para de mamar! Oulha que me dá mesmo cabo de las cuostas! Ando mesmo derreadica i chena de delores ne ls quadriles! Bá lá que, oumenos hoije, ben bien drumedico! Deixa-me só abaixar de l burro i bamos a ber s’el nun sperta!
– Ah, pus si!… Deixa que you te boto ũa mano. Sabes, bou acá c’ũa gana daqueilha cousa, Marie Rosa!…
– Mas de l quei, home?!
– I que tal se çcansássemos un cachico?! Oulha que me stá mesmo a apetecer!…
Nun era perciso dezir mais nada. Que, para buono antendedor, meia palabra bonda!… I la tie Uorfa, pa lhá de ser nuoba i, indas que a las bezes se fingisse de zantendida, tamien nun era nada zgúbia nin ũa antendedeira mala de todo! Assi, cumo quien nun quier la cousa, mas querendo-la, respunde-le eilha:
– Oulha que tu, Joquin! Passa-te cada cousa pula cabeça! Sós mesmo chochico! I se l nuosso Zezico sperta? Ou se, pori, algũa pessona passa por eiqui?
– Nun t’apoquentes, Marie Rosa! Quien ye que bai a passar por eiqui a esta hora?! I bai alhá agora l nuosso garotico a spertar!…
Apuis deiIha, cul sou home a sigurar l’arreata, s’abaixar de l jemento, eilhi stubírun ls dous un cachico na cumbersa. Mas falában tan baixico que, deficelmente, quienquiera que passasse mesmo cerca deilhes scuitarie l que starien a dezir un al outro.
De l que falában, nun sei, nin eilhes starien pa cuontar a naide. Serie de cousas deilhes i an que nun debemos nin mos bamos a antrometer…
Zezico inda abriu ls uolhicos, mas, cerrando-les lhougo de seguida, nin sequiera spertou. Se sous pais lhebában outro çtino, tamien nun sei, nin la tie Uorfa dixo a naide.
La berdade ye que, sin mais aqueilhas, la tie Marie Rosa i l sou home zbían pa la dreita i, apuis de passáren antre ls lhameiros de l tiu Joquin Quintanilha i l de ls Sidórios, méten-se na touça que queda a la squierda i mesmo porriba de l camino.
Anquanto eilha se pon a fazer ũas festicas al nino, tiu Nobenta trata de prender ls jementos, atando-les pul’arreata a uns carbalhicos. Cada béstia quedou tan bien que nin sequiera un puxon dou. Habie eilhi tantas i tán buonas fróncias de carbalho i ũas urzes tan tienricas que, nun stantico, se bótan a robé-las. I, na borda de la touça, tamien nun faltaba yerba bien berde i uns faleitos, prontos pa la pareilha se botar a trates a eilhes. I nin sequiera las moscas ou ls atabanos les atanazarien muito, pus qu’inda nin berano era. Assi i todo, bondarie abanar l rabo, sacudir la cabeça ou meté-la antre las bergóntias de la touça pa ls anxotar.
Anton, eiha cul garotico al chin i el de bara na mano, bótan-se ambos a dous por eilhi arriba, pul fondo de la tierra, que staba d’adil, i pula borda de fuora de la parede de l lhameiro de ls Quintanihas, q’apuis habie de l hardar l tiu Grifo ou Faquito, até la cortina de l tiu Luisico.
Quien bisse las dues criaturas, a aqueilha hora por eilhi, cuidarie que, cumoquiera, andarien a la percura d’algo que solo eilhes i Dius ye que saberien de l quei. I, mesmo que fusse, pori, pa se scundéren ne l meio dũa touça, naide tenie nada que ber cu’isso. Para mais, ambora inda nuobos, siempre éran casados…
I, agora, que naide stá eiqui a scuitar-mos i deixando-mos de cousas, dezi-me alhá: a quien nun le passou yá pula eideia nin tubo buntade de se botar a fazer, ou fizo mesmo, destas cousas? I nun há de ser por isso que qualquiera santo bai a cair de l altar…
Mas, mal dan uns passos, l garotico sperta i, inda stremunhado, pon-se a rezungar. Assi, la mai nun tubo outro remédio senó tirá-lo de las cuostas i, aporbeitando la selombra dun frezno, dar-le la teta. Cu’el yá sastifeito, pon l sou Zezico, qu’inda mal ampeçara a dar uns passicos, ne l chano, a la abrigada i na borda dũa touça de l adil, nun fusse, pori, apanhar ũa puntica d’aire i custipar-se. Bien acunchegadico i a la selombra, eilhi queda el. Yá meio drumenhuoco, bondou sue mai sperar un cachico par’el se drumir.
Mal serie q’algun bicho stubisse eilhi p’anquietar ou fazer algun mal al garotico. Cumo se sabe, de l que qualquiera lhagarto ou queluobra percisa i le gusta ye de poner-se al Sol, cumo las ties al soalheiro, a apanhar calor…
Yá na cortina de l tiu Luisico, apuis d’abríren la canhiça, la tie Uorfa i l tiu Nobenta porparában-se p’ampeçar a la sue percura. Mas, al passar cerca de la parede de l fondo, porriba de la barranca q’aparta la cortina de l lhameiro, spanta-se-le ũa perdiç, a bolar, mesmo als pies i a la frente deilhes.
– Ai, Manel Joquin!… Que susto me pregou l raio de la perdiç!…
– Nun t’apoquentes, Marie Rosa!… Aton, nun stou you eiqui?! Oulha que debe tener salido de l nial!
– Carai!… Bamos aton a ber se damos cu’el, Joquin?
I nun s’anganhou. Bótan-se, anton, ambos a dous a la percura i, mesmo na borda, antre uns chougarços, silbas i fenanco, alhá dan cul nial. Tenie cerca dũa dúzia d’uobos, pintalgados de castanho, bien grandicos i boniticos, quaije prontos pa la criaçon. Quédan ambos a dous tan ancantados que nin dous garoticos todos anfeiteçados.
La tie Uorfa pega nun uobo i pon-se a abaná-la junto a l’oureilha, nun fusse, pori, star yá chuoco. Mas, nun le sentindo abanar, lhougo bei que la perdiç inda andaba a poner. Aton, pega ne ls uobos un a un i pon-los ne l mandil, pa ls lhebar para casa. De tan cuntentica, nin capaç ye de quedar calhada:
– Que rica niada d’uobos! Bien mos çafemos, Joquin! Yá arranjemos para, hoije a la nuite, fazer ũa buona tortilha para nós i pa l nuosso nino!
Cun esta i cun outras, eilhi stubírun un ror de tiempo tan antretenidos a trates de ls uobos que nin se dórun de cunta de l tiempo a passar nin de nada mais. Quaije se squecírun de l garotico i, anté, de l’outro nial que lhebában na eideia i de que tenien ido eilhi, da peto, a la percura.
Passado un cachico, lhembrando-se, anton, de l sou nino, la tie Uorfa bota un relhance d’uolhos caras a la touça, adonde, todos çcansadicos, le tenien deixado. Mas, nin le biu, nin dou cu’el. Nun sei l que tenerá feito, mas l raio de l garotico nun staba eilhi. Todos aflitos, bótan-se, aton, ambos a dous a la percura del. Dan buoltas i mais buoltas por eilhi al redor i nada. Até qu’eilha alhá l’abista la cabeça del, yá quaije al fondo de la barreira de l adil a çcair pa l lhameiro de ls Quintanilhas.
Pul que se bei, nesse die, l nial de perdiç nun tenerá sido solo esse l strobilho pa lhebáren palantre l que la tie Uorfa i l tiu Nobenta tenien an mente i andarien por eilhi a la percura. Ne l que toca al nial que mais les amportarie, nun podendo tratar del nesse die, alhá tubírun eilhes que tornar para casa culs cantares de la segada. Solo se fui an casa que tratórun d’ancuntar aquel q’ls lhebou a zbiáren-se até la cortina de l tiu Luisico.
Uns dies apuis, stando eilha i ũa sue amiga a lhabar la roupa ne ls lhabadeiros de l ribeiro de l Balhe, sin amentar ne ls pormenores, que nun serie cumbeniente dá-les a coincer a quienquiera que fusse, la tie Uorfa cuontou-le l’afliçon por qu’eilha i l sou home tenien passado:
– Ah, Fuciana, bei alhá tu l q’l nuosso Zezico mos habie de fazer!… Sabes, you i l miu Manel Joquin fumos a dar cu’el scundido atrás dũa paçparoteira.
Cuitadico, staba eilhi el, solico, tan antretenido i amarradico…. Oulha parecie mesmo un coquelhadico!…
L’alcunha de Pitascas
Era Zé de la tie Uorfa inda garoto quando sue mai le dixo pa l’ajudar a porparar ũa fornada de centeno ne l forno de la tie Clorinda i de l tiu Ferreiro, ũa sue bezina que, un cachico mais abaixo, tenie l forno nas traseiras de sue casa, antre la casa de l tiu Alexandre i l curral de ls Stebas i mesmo a la frente de la casa de l tiu Canoio. L forno de la a tie Clorinda era tan grande que daba pa fazer mais de dieç fogaças de cada beç. I eilha nun se amportaba que bárias bezinas, que nun tubíssen forno, fússen a cozer l sou pan ne l deilha.
Apuis d’amassar i de fenhir, la tie Uorfa toca a meter las fogaças ne l forno. De seguida, arruma la pala de meter las fogaças i l ranhadeiro nũa squina. Apuis de poner la tapadeira de fierro na boca de l forno i de fazer la reza i la cruç, bira-se pa l filho i diç-le:
– Á Zé, tenemos que deixar todo cumo debe ser. Bien bonda la tie Clorinda deixar-mos cozer l nuosso pan ne l sou forno! Bá, chega-me acá esse bardeirico de bercegos a ber se deixo todo arrumado i bien lhimpico!
Claro stá que, apuis de meter l pan ne l forno i d’apagar la candeia, de lhuç, solo ũas racicas de sol q’antrában por antre las teilhas. Anton, ponendo-se a percurar l bardeirico, mas nun dando cu’el, respunde-le Zé:
– Á mai, nun stou a ber niun bardeirico!…
– Á carai! Mas, anton, tu nun bés que stá na masseira?! Saliste-me acá un pitascas!…
Tengo para mi que la tie Clorinda, que starie a salir por eilhi de casa pa la rue de riba, tenerá scuitado la cumbersa i oubido la tie Uorfa a ralhar i a chamar-le Pitascas al sou Zé. Cierto, cierto, ye que, deilhi pa la frente i até fin de bida del, toda la gente d’Angueira passou a chamar-le Zé Pitascas. I, se poucas outras cousas el deixou d’hardáncia als sous filhos, oumenos l’alcunha, todos eilhes, eiceto Zacarias Chebico, la hardórun del.
L biubeç de la tie Uorfa
Hai yá bien anhos, l tiu Nobenta i sous dous bezinos – l tiu Eibangelista Bileiro i l tiu Lazarete –, pul final dũa tarde mui frie dun die d’eimbierno, botórun-se todos trés, a pie, d’Angueira a Alcanhiças pa tratáren de las sues bidas. Apuis de cumpráren las quemenéncias que les fazien falta, inda antes de ponéren ls pies a camino d’Angueira, buírun ũas copicas d’augardiente pa calcéren un cachico pa la caminada.
Nuite cerrada i mui scura, tornában eilhes para casa, ampeça a nebar: purmeiro, ũas farrapicas, mas, apuis, cada beç mais niebe. Assi i todo, yá pertico de la raia, salírun-les dous carabineiros al camino, un cachico a la frente deilhes. Anton, bótan-se a fugir caras a Pertual, scapando-se-le cada qual por donde calhou i puodo. Apartando-se uns de ls outros, cada qual seguiu por sou camino de buolta a casa. Assi, ls carabineiros nun cunseguírun apanhar niun deilhes.
Soutordie de manhana, cumo nun habie modo de l sou home chegar a casa, la tie Uorfa, antes mesmo de se zanjuar, bota-se até las casas de l tiu Lazarete i de l tiu Eibangelista pa les precurar pul sou Manuel Joquin. Mas, tanto la tie dun cumo la de l’outro, dezírun-le que ls sous homes inda stában a drumir na cama pus tenien chegado mui tarde a casa. Mas, bendo-la naqueilha afliçon, cada ũa deilhas fui, nun sfergante, a spertar l sou home. Un i outro cuontan-les, anton, l que s’habie passado de nuite culs carabineiros yá cerca de la raia quando tornában d’Alcanhiças.
Mal acaba de tocar a rebate, ajuntou-se tod’mundo d’Angueira a la puorta de la tie Uorfa pa l’acudir. Bários homes bótan-se, anton, por çfrentes caminos, até la raia a la percura de l tiu Nobenta. Zafertunadamente, un deilhes dá cu’el antre ũa touça i ũa parede ne ls Salgadeiros,, todo anculhido, atrecido i ancapaç de dezir sequiera ũa palabra. Trazírun-le anroscado nũa manta até casa. Bendo-le, assi, todo angaranhido, nun sei quien tenerá sido que, cun la melhor de las tençones, se lhembrou i dixo pa le botáren auga caliente porriba del. Nun cunseguindo rejistir, passado un cachico, tiu Nobenta antregou la alma al Criador.
Yá la muorte de l pai de la tie Uorfa, era eilha inda nuobica, tenie sido tamien an circunstáncias mui stranhas. Ye que, apuis de la muorte de la mai de la tie Uorfa, sou pai dixo a quien fui a la Bila a tratar-le de la papelada i a cumprar l caixon pa le trazer tamien l sou. Dezie qu’el irie lhougo a seguir a la sue tie. L’home assi fizo, mas cul trato que, s’aquel nun se morriesse lhougo a seguir, l debolberie. Mas nun fui neçairo debolbé-lo pus se morriu mesmo. Talbeç tenga sido essa la rezon por que, quedando, dũa beç, sin pai nin mai, le ponírun l’alcunha de Uorfa a la filha.
Nin la tie Uorfa nin l sou home, éran pessonas de se dáren a la perguícia i de se baldáren al trabalho. Sendo ambos a dous de la raça de gente trabalhadeira, inda antes de l tiu Nobenta la deixar biúda, amanhórun tiempo, jeito i maneira d’ancomendáren cinco filhos, l tiu Zé Pitascas i ls sous quatro armanos: tiu Alípio, tiu Moisés, tiu Antonho Uorfo i la ti’Anica.
Era you inda garoto, pus andaba na purmeira classe, la armana de l tiu Zé Pitascas i l sou home, l tiu Zé Doutor, scapórun pa l Brasil culs sous filhos. Cumo nun les tornei mais a ber, yá nun me lhembra bien de niun deilhes.
Bocabulairo \\ vocabulário
Acá – cá \\ acauso – por acaso \\ acunchegadico – aconchegadinho \\ adbertir/do – divertir/ido \\ adil – terra de pousio \\ aire – ar \\ ajuntar-se – reunir-se \\ al/s – ao/s \\ alhá – lá \\ alebiar – aliviar \\ alhebantar – levantar \\ al redor/alredores – em redor/arredores \\ amanhórun – (forma do verbo amanhar) arranjaram \\ amarradico – agachadinho \\ amentar – mencionar \\ amostrar – mostrar \\ ampeçar – começar \\ amportar – interessar, importar \\ ancantado – encantado \\ ancapaç – incapaz \\ ancuntrar/o – encontrar/o \\ andubírun – (forma do verbo andar) andaram \\ anfeitar – enfeitar \\ anfeiteçado – enfeitiçado \\ anganhar – enganar \\ anho – ano \\ anquietar – perturbar \\ anrezinado – arreliado \\ antender – entender \\ anterrumper – interromper \\ anton/aton – então \\ antretener/ido – entreter/ido \\ antrometer-se – intrometer-se \\ apoquentar – preocupar \\ apuis – após, depois \\ arriba – acima \\ arrimado – encostado \\ atabano – atavão, inseto que ataca o gado bovino e asinino \\ assi i todo – mesmo assim, apesar disso \\ atanazar – perturbar \\ barranca – desnível de terreno numa ou entre propriedades \\ beç – vez \\ belharaça – maluqueira \\ benir – vir \\ bezino – vizinho \\ bia – via \\ boç – voz \\ bolar – voar \\ bondar – bastar \\ botar-se de cuntas – pôr-se a pensar \\ buer/buído – beber/ido \\ búltio – vulto \\ buolta – volta \\ buntade – vontade \\ çafar – livrar \\ calhar – calar \\ caliente – quente \\ camino/ar – caminho/ar \\ capaç – capaz \\ carreiron – carreiro \\ çcair – descair \\ çcansadico – descansadinho \\ cena(r) – ceia (cear) \\ çfarçadamente – disfarçadamente \\ çfarçar – disfarçar \\ cfrénciar/çfrente – diferenciar/diferente \\ chin – colo \\ chochico – tolinho \\ chougarço – chaguarço (planta selvagem rasteira) \\ chubir – subir, ir para cima, montar \\ coquelhada – ave semelhante à cotovia \\ coraige – coragem \\ cortina – terra de cultivo cercada por muros \\ cozina – cozinha \\ çpachar – despachar \\ çtáncia – distância \\ çtino – destino \\ cũa – com uma \\ cul – com o \\ cu’la – com a \\ cu’el/cu’eilha – com ele/com ela \\ cumoquiera – talvez \\ cun – com \\ cunsante – consoante \\ cuontar – contar \\ deilha/es – dela/deles \\ deimingo – domingo \\ del – dele \\ die – dia \\ Dius – Deus \\ dreita/o – direita/o \\ drumenhuoco – dorminhoco \\ dũa – de uma \\ eidade – idade \\ eilhi – ali \\ eisceto – excepto \\ el – ele \\ ende – aí \\ fame – fome \\ fenanco – erva meio seca \\ fita – filme \\ fizo – (forma do verbo fazer) – fez \\ frezno – freixo \\ fróncia – rebento de árvore \\ fuora – fora \\ gustar – gostar \\ huorta – horta \\ lhadeira – encosta \\ lhagarto – lagarto \\ lheite – leite \\ lhembrar – lembrar \\ lhibrar – livrar \\ lhobo – lobo \\ lhugar – lugar, localidade \\ mala – má \\ mandil – avental \\ manhana – manhã \\ mano – mão \\ mi/mie – muito, mim/minha \\ mortico – mortinho \\ mos – nos \\ naide – ninguém \\ necidade – necessidade \\ niada – ninhada \\ nial – ninho \\ niebe – neve \\ nin – nem \\ ningũa/ningun/niun – nenhuma/nenhum \\ nino – menino \\ nin sequiera – nem sequer \\ nun stantico – num instante \\ nó/nun – não \\ nuite – noite \\ oumenos – pelo menos \\ pa – para \\ pa lhá – para além \\paçparoteira – dedaleira (planta herbácea medicinal) \\ palantre – p’rá frente \\ parcer/ido – parecer/ido \\ percura/r – procura/r \\ pequerruchico – pequenito \\ pie – pé \\ pori – por azar, porventura, talvez \\ porparar – preparar \\ porriba – por cima \\ precurar – perguntar \\ pul/pula – pelo/pela \\ purmeiro – primeiro \\ pus/puis – pois \\ quaije – quase \\ qualquiera – qualquer \\ quedar – ficar \\ quei – o quê \\ queluobra – cobra \\ quemer – comer \\ queto – quieto \\ quien – quem \\ quienquiera – qualquer pessoa \\ relhance – relance \\ respunder – responder \\ rezon(es) – razão(ões) \\ riba – cima \\ riente – rente \\ salir – sair \\ sastifeito – satisfeito \\ scapar-se – fugir \\ scuitar – escutar \\ sculhir – escolher \\ scunder – esconder \\ selombra – sombra \\ senó – senão \\ sequiera – sequer \\ sfergante – instante \\ siete – sete \\ sin – sem \\ spertar – despertar, acordar \\ stranha/r – estranha/r \\ stremunhado – estremunhado \\ strobilho – estorvo \\ stubírun – (forma do verbo “star”) estiveram \\ stubísse – (forma do verbo “star”) estivesse \\ subretodo – sobretudo \\ talbeç – talvez \\ tentaçon – tentação \\ tienrica – tenrinha \\ todo/s – tudo/todos \\ touça – moita de carvalheiras \\ tornar culs cantares de la segada – regressar sem nada ou sem atingir o objetivo \\ tubírun – (forma do verbo “tener”) tiveram \\ tubísse – (forma do verbo “tener”) tivesse \\ ũa – uma \\ uobo – ovo \\ uolho – olho \\ uorfo/a – orfão/ã \\ xal – xaile \\ yá – já \\ ye – (forma do verbo ser) é \\ yerba – erva \\ zafertunadamente – infelizmente \\ zantendida – desentendida \\ zaparecer – desaparecer \\ zbiar – desviar \\ zgúbia – capaz de se negar ou de se pôr a andar
Para saber o significado de outras palavras, sugiro a consulta do sítio
Se o/a leitor/a não está familiarizado/a com a Língua Mirandesa, sugiro que, para facilitar a compreensão do texto, o leia a meia-voz. Se, mesmo assim, sentir qualquer dificuldade em compreender o sentido ou descobrir o significado de alguma palavra menos usual ou cuja grafia se afasta maisda portuguesa, não hesite em consultar o Vocabulário que pode encontrar no final do mesmo.
Breves notas sobre a grafia do Mirandês
Em Mirandês, não se pronuncia o som v, que é substituído pelo da letra b; usualmente, o prefixo des é substituído, consoante os casos, por ç ou z no início da palavra; para não se confundir com a contração da preposição a com o artigo definido o, que, em Mirandês, se escreve e lê al, o artigo definido o escreve-se l, mas lê-se também al; salvo raras exceções, os ditongos nasais ão e õe escrevem-se an e on; o m final das palavras portuguesas é, no Mirandês, substituído pela letra n; geralmente, o l inicial das palavras é substituído pelo dígrafo lh; já o dígrafo ch, em Mirandês, lê-se sempre tch; talvez por, inicialmente, ser apenas uma língua falada, o Mirandês tende a contrair os pronomes, artigos, preposições e as conjunções com as palavras seguintes, quando estas são iniciadas por vogal.
La amiga Teresa Amparo Ferreira zafiou-me a traduzir pa Miranda la counta “Jeremias: Um Cavalo Biqueiro”, por eilha publicada, an Pertués, ne l “Diário de Trás-os-Montes” (ber l “link” ne l final deste testo).
– Anica, à Anica! Sperai por mi.
– Bei se dás a la pierna, Jorge. Sós siempre l mesmo. Cumo de questume, siempre atrasado! Bá, Tiu Zé, sperai mais un cachico, se fazeis fabor. L rapaç stá quaije a chegar.
Jorge corrie tan delgeiro q’até batie culs carcanhares nas nalgas. Tenie q’apanhar la carreira que lhebaba ls studantes de la cidade pa la Scola Porfissional de la Lhaboura, nũa poboaçon de ls alredores.
– Dius bos lo pague, Tiu Zé. Çulpai-me alhá. Atrasei-me un cachico.
– Bá, entra i senta-te, rapaç. Falta algun?
– De ls que stan, nun falta naide, Tiu Zé. – respunde Carlos, siempre c’ũa gracica pronta.
– Bamos anton ambora, rapaziada! – diç l cundutor.
– Que se passou hoije cuntigo, Jorge? – pregunta-le Anica.
– L mesmo de siempre.
– Se quegires cuontar…
– Cousas de miu pai, Anica.
– Que fui desta beç?
– Apuis, falamos. Stá bien?
– Quando quegires, stou a la scuita. Olha, faziste l trabalho de Matemática?
– Si, fiç.
– Olha q’onte andei toda la tarde a pensar nel. Ye que me parciu fácel demais. Acá para mi, l porsor passou-mos ũa rastreira.
– Yá bamos a tirar isso a lhimpo na sala. Tamien me parciu mi fácel. Mas nin sequiera tube tiempo pa pensar bien nel. Miu pai mandou-me a fazer tantos recados que nin tiempo tube pa respirar. – lhastima-se Jorge.
– Á tu! Tou pai ye tal i qual l miu. Siempre que le dá na gana, manda-me fazer un fartote de recados. I mie mai nun le queda nada atrás. Ora un, ora l’outro… i you culs trabalhos de la scola por fazer. Olha que nin tiempo tengo par’andar por ende a passear las piernas i a ber las montras na cidade.
I, mudando d’assunto, cuntina eilha:
– Scuita, Jorge: apuis de la scola, lhougo que podires, bamos a ber l que se passa cul Jeremias? Tenemos eilhi un causo bicudo. L cabalho stá cada beç mais franzinico! Nun te deste de cunta?
– Por acauso, tamien reparei nisso.
Anton, acabada la biaige, ũa boç abisa:
– Bamos alhá, moços! Yá podeis salir de la carreira. Joquin, bei alhá se tenes maneiras, rapaç. Nun ampurres ls tous cumpanheiros. – recumenda-le l cundutor.
– Çculpai alhá, Tiu Zé. Ye que stou mesmo aflitico para ir a la retrete…
– Esta mocidade… até son buonos moços. Quien me dira ne l tiempo deilhes i saber l que sei hoije! Daba un poulo nũa streilha. Ai, bida, bida!…
I Carlos, malandro cumo siempre, cumpleta:
– Ye mais curta que cumprida…
– Dianho de l rapaç! Siempre de respuosta pronta i na punta de la lhéngua. Un die destes inda t’hei de fazer la cama. Olaré, se fago! Deixa star que nun perdes pula demora, sou cuco de la ribeira. – diç l cundutor alhá culs sous botones.
– Yá stá a tocar pa la sala? Bamos alhá, rapaziada! – apressa Anica.
– Buonos dies, Porsor.
– Buonos dies a tod’mundo. Bá, assentabai-nos nas carteiras. Marie de Lurdes, falta algun?
– Deixai ber, Porsor.
La delegada de turma passa ls uolhos pulas carteiras i bai dando cunta de quien falta al porsor Pedro que registra las faltas.
– Bá, toca a tomar nota de l sumairo:
“Álgebra – ouperaçones cun polinómios. Rebison de ls trabalhos de casa.”
– Porsor!…
– Si, Carlos! Ora diç alhá…
– Nun sei l que quier dezir polinómios! Nunca oubi essa palabra…
– Ye matéria nuoba, Carlos. La delegada de turma puode arreculhir ls trabalhos de casa, se fai fabor.
– Porsor, l porblema era mi fácil… – diç Anica.
– Quien mais achou q’l porblema era fácel?
Quaije todos pónen la mano ne l aire.
– Pus bien, de las dues ũa: ou nun percebistes l porblema, ou stais uns ases nesta matéria. L porblema tenie todo, menos ser fácel.
– Biste, Jorge! You nun te dixe qu’eilhi habie marosca! – relhembra-le Anica.
– Á mius caros, pa ser buono a Matemática, hai que, antes de mais, ser buono aluno a Pertués. Cumo quereis perceber l que bos ye pedido ne l einunciado de l porblema, sin dominar la nuossa lhéngua?
Ls alunos antreolhában-se cun aire çcunfiado. Suspeitában q’habien sido apanhados na curba de la facelidade.
– Quien quier benir al quadro a resolber l porblema?
– Puodo ir you…
– Pus l quadro ye todo tou, Jorge. Amostra-mos alhá cumo resolbiste l problema.
Jorge iba zambolbendo l sou raciocínio; i ls sous cumpanheiros, todos an silenço, seguien l zanrolhar de la respuosta. Agora, yá nun se sentien siguros de nada.
– Yá acabei, Porsor.
– Aton, bamos a ampeçar por lher l einunciado de l porblema. Rita, fai fabor d’l lher, pausadamente i an boç alta.
– Todos percebistes l que bos ye pedido?
Cada beç mais baralhada, la turma nin tugie nin mugie. Agora, éran mais las dúbidas que las certezas. Afinal, l porblema nun era assi tan simple. Habie que fazer un eilaborado raciocínio pa zanrolhar l filo a la meada.
Cun toda la calma, l porsor iba splicando l que dezie l testo; tomórun nota de las bariables i custantes q’antrában ne l problema; i, a seguir, pediu a Jorge pa tornar a resolbé-lo.
– Yá stá, Porsor.
– Bamos aton a ber… Stá cierto, Jorge. Mui bien, rapaç! Stais a ber cumo la nuossa lhéngua ye tan amportante para mos ajudar a perceber outras deceplinas?
La aula cuntinou, tal cumo todas las outras de la manhana, cun antusiasmo pulas nuobas matérias qu’eilhi s’ansinában.
Apuis d’almorçáren na cantina, Jorge i Anica fúrun a besitar Jeremias. Gustaba-les muito cuidar de l cabalho. Tenien feito grande amisade antre todos trés. La besita a las loijas seguie rituales qu’eilhes cumprien cumo ye de-lei: botában auga fresca i quemida al cabalho, scobában-lo, lhabában-lo, montában-se nel, fazien-le fiestas i mais fiestas…
I Jeremias, quando ls bie chegar, zataba a relinchar a la spera de cenouras. Apuis, daba ũas marradicas na cabeça dun i doutro pa q’l lhibertássen i scobássen. Sabie splicar-se mui bien. Mas habie algo qu’eilhes nun cumprendien. Jeremias yá nun quemie qualquiera cousa i staba cada beç mais biqueiro. Se le botássen yerba berde i tienra, si la quemie; mas, se fússen yerbas secas, cumo palha i feno, scusaba-se a quemé-las. Tenie apanhado la manha de só quemer yerba se fusse berde. Tamien quemie bien maçanas, cenouras, milho, cebada i l’abena que le botában. Mas, la dieta percipal dun cabalho ye yerba fresca ou bien cunserbada. I, se nun la hai, ten que se cuntentar cun palha i feno. Mas, sendo cuntrariado, Jeremias sabie amostrá-lo bien: batie cula pata delantreira dreita ne l chano ũas trés ou quatro bezes; apuis, ponie-se a raspiar l chano, relinchaba, abanaba la cabeça i daba ũas chibatadas cul rabo. I, p’acabar cula fiesta, só le restraba dar mais ũas patadas.
Ls moços, bendo q’l cabalho quedaba cada beç mais ruinico, botórun-se de cuntas qu’era ourgente ancuntrar ũa seluçon. Tenien inda bien persente l q’habien daprendido na liçon de Matemática, nun tanto pula matéria, mas subretodo pula maneira de le pegar i que debien seguir pa cumprender un porblema. Ls dados stában todos alhá: Jeremias só querie quemer yerba berde, l alimento qu’era la base de la sue dieta. Mas, na falta d’yerba berde, negaba-se a quemer feno i palha.
De rumpon, Anica dá un poulo cumo se tubisse ancuntrado ũa lhuç al fondo de l túnel:
– Jorge, perciso que m’ajudes. Yá sei l que bamos a fazer.
– Ora cuonta alhá isso!…
– Anda, ben dende…
– I adonde bamos?
– Cunfias ou nó an mi?
– Inda preguntas?
– Anton, anda…
Ban até a la garaige, adonde stában arreculhidas la carreira i las ferramientas de la lhaboura, a tener cul mecánico que mantenie todo an orde i a funcionar cumo debe ser.
– Buonas tardes, Tiu Anible!
– Buonas tardes, moços. Que benistes eiqui a fazer?
– Percisamos que mos deis ũa ajudica.
– Oulhai que bós! You sou mecánico, nun sou porsor…
– Pus ye por isso mesmo que percisamos de bós.
– Aton, dezi-me alhá l que quereis de mi.
– La cousa nun ye bien para nós, mas pa l Jeremias.
– Bó! Quereis ber que s’abariou l motor al cabalho?! – ri, meneando la cabeça.
– Nun gozeis, Tiu Anible! Oulhai q’l caso ye mui sério. – atalha Anica.
– Anton, moça, nun t’amportas de splicar?
– Ye que, agora, Jeremias só quier quemer yerba berde i fresca; cumo l feno nun ye berde nin fresco, nin sequiera l proba.
– I adonde ye que you entro nisso? – pregunta l mecánico.
– Tengo ũa eideia.
– Las moças quando se pónen cun eideias…
– Scuitai-la, Tiu Anible. – pediu Jorge.
– Anton, diç alhá, moça.
– Pensei que podiedes ajudar-mos a fazer uns ócalos pa l Jeremias. Ua cousa que seia a la medida del!
– Uns ócalos pa l cabalho?!
– Si, si. Apuis, cun papel celofane berde, fazemos-le las lhientes.
Tiu Anible, coçando ls ralicos pelos de la careca, tentaba cumprender la situaçon.
– Bien, you tengo eilhi arame. Mas nun tengo esse tal de papel celofane.
– Nós bamos a buscá-lo a la sala de Trabalhos. Bós ajudais-mos? – pregunta-le Jorge.
– Bai alhá anton, Anica, anquanto you i Jorge tiramos las medidas al cabalho.
Anica bolaba que nin ũa paixarina, toda cuntenta por se ber ambolbida nũa eideia tan strourdinaira. I, nun stantico, staba yá de buolta a l’oufecina, adonde eilhes inda stában a dobrar l arame.
– Bamos, aton, alhá al celofane. I cumo ye q’l bamos a sigurar ne l arame?
– Cun cola, ou fita-cola, nun sei… – respunde-le Jorge.
– Bamos a ber cumo calhará melhor. – pondera Tiu Anible.
– Ls ócalos stan mesmo ũa purfeiçon. Ora dezie-me alhá, de buossa justícia, se nun stan bien guapos?! – pregunta Anica, na sue angenuidade, bendo l sou porjeto yá acabado.
– Bamos a poné-los al Jeremias. Ora beni cumigo. – diç-les Jorge todo campante.
Ponírun i amanhórun ls ócalos al cabalho. Quedórun-le mesmo un spanto! De seguida, Jorge i Anica bótan-le ũa manadica de feno na manjadoura i…
– Olha par’el, Jorge! Stá a quemer!… Mas que çafado!… Cun q’anton solo te sirbe yerba berde?!…
– Sabes, Anica, yá miu pai dezie: “Qualquiera burro come palha; l segredo stá an saber dar-la.” – arremata Tiu Anible.
Agradecidos, Jorge i Anica dan cada qual un abraço bien arrochado a Tiu Anible, que, cumo eilhes i pul feito, se rie que nin un perdido…
Para aceder al testo oureginal an Pertués, bonda carregar ne l “link” a seguir:
Se o/a leitor/a não está familiarizado/a com a Língua Mirandesa, sugiro que, para facilitar a compreensão do texto, o leia a meia-voz. Se, mesmo assim, sentir qualquer dificuldade em compreender o sentido ou descobrir o significado de alguma palavra menos usual ou cuja grafia se afasta maisda portuguesa, não hesite em consultar o Vocabulário que pode encontrar no final do mesmo.
Breves notas sobre a grafia do Mirandês
Em Mirandês, não se pronuncia o som v, que é substituído pelo da letra b; usualmente, o prefixo des é substituído, consoante os casos, por ç ou z no início da palavra; para não se confundir com a contração da preposição a com o artigo definido o, que, em Mirandês, se escreve e lê al, o artigo definido o escreve-se l, mas lê-se também al; salvo raras exceções, os ditongos nasais ão e õe escrevem-se an e on; o m final das palavras portuguesas é, no Mirandês, substituído pela letra n; geralmente, o l inicial das palavras é substituído pelo dígrafo lh; já o dígrafo ch, em Mirandês, lê-se sempre tch; talvez por, inicialmente, ser apenas uma língua falada, o Mirandês tende a contrair os pronomes, artigos, preposições e as conjunções com as palavras seguintes, quando estas são iniciadas por vogal.
Bede solo pa l que, desta feita, m’habie de dar pa fazer: botar-me a reculhir, tratar i a cumparar ls resultados de las botaçones nas Eileiçones Legislatibas de 30 de janeiro de 2022 nas Fraguesies/Ounion de Freguesies (OF) de ls munecípios de Bumioso, Miranda de l Douro i Mogadouro, ls trés cunceilhos de la Tierra de Miranda.
Antes de mais, tengo q’agradecer a l’amiga Teresa Amparo Ferreira, quadro suprior de l Anstituto Nacional de Statística, por me tener alertado para ũa falha q’habie nũa de las quelunas de l quadro abaixo. Corregida la falha, tengo tamien que bos lhembrar dũa cousa: cada qual bei l mundo de la quelor de las lhientes de ls ócalos, que, pula bida fuora, fui deixando poner i ponendo ne ls uolhos, i que l’ajúdan a ber l mundo.
Nun sendo nin mais nin menos que naide, tamien cumigo se passa la mesma cousa. Assi, pa que nun digades, pori, que bos quiero anganhar, tengo, anton, que bos prebenir que ye culs mius ócalos que beio l mundo.
1. Legislatibas 2022: las botaçones de ls partidos ne ls cunceilhos de la Tierra de Miranda
Mirai l quadro a seguir q’amostra ls resultados de ls partidos nas Eleiçones Legislatibas de 30 de janeiro de 2022 na Tierra de Miranda.
LEGISLATIBAS 2022: MORADORES, ANSCRITOS, ABSTENÇONES, BOTANTES I BOTOS NE LS PARTIDOS POR FRAGUESIE/OF I CUNCEILHO DE LA TIERRA DE MIRANDA
Nun sei porquei, ls resultados de la maior parte de las Fraguesies i OF de Bumioso, Miranda de l Douro i de Mogadouro son çfrentes de ls de la maior parte de ls outros cunceilhos de l Destrito de Bregáncia i de l Paiç.
Indas que, sendo xordos i mudos, i cumo tal nun fálen, berdade berdadica ye que ls númaros tamien mos dízen cousas. Bonda reparar bien neilhes. Cumo podeis ber puls númaros de botos de l quadro, hai muitas cousas mui parcidas ne ls trés cunceilhos:
1.1. Al cuntrairo de l que se passou na maior parte de l Paíç, an todos ls cunceilhos de la Tierra de Miranda tubo mais botos i ganhou l PSD;
1.2. Son pouquitas Fraguesies/OF de cada un de ls cunceilhos an que l PS tubo mais botos i cumo tal ganhou: dues an dieç – las bilas i Fraguesies d’Argozelo i de Bumioso – ne l cunceilho de Bumioso; trés – OF de Costantin i Cicuiro i las Fraguesies de la Pruoba i de Picuote – i un ampate – na Fraguesie de Samartino d’Angueira – an treze ne l cunceilho de Miranda; i dues an binte i ũa – na Fraguesie de Meirinhos i na OF de Vilarinho de Galegos i Ventozelo – ne l cunceilho de Mogadouro;
1.3. De ls partidos a la dreita de l PSD, l CHEGA oumentou cunsiderablemente, subretodo ne l cunceilho de Mogadouro, l númaro de botos; indas que l’Einiciatiba Lhibaral (IL) tenga tamien oumentado l sou númaro i alcançado ne l cunceilho de Bumioso até mais botos q’l CDS, ne ls cunceilhos de Miranda i de Mogadouro, tubo, assi i todo, menos botos q’l CDS, l partido que tubo la sigunda maior perda de botos ne ls trés cunceilhos;
1.4. De ls partidos a la squierda de l PS, l BE i l PCP-PEV, i tamien l PAN – ls dous purmeiros cumoquiera cumo castigo por tenéren botado contra i, assi, nun tenéren deixado passar na botaçon la Propuosta d’Ourçamento de Stado para 2022 apersentada pul Goberno –, cuido you que, talbeç tiemporariamente i por bias de l boto útil, perdírun muitos botos pa l PS; indas q’l Lhibre, tenga perdido botos ne ls cunceilhos de Bumioso i de Mogadouro, assi i todo, cunseguiu oumentar por un l sou númaro de botos ne l cunceilho de Miranda;
Por bias de la alteraçon que la Troika oubrigou a fazer, i l menistro Relvas fizo, nas fraguesies, i tamien por l Anstituto Nacional de Statística i l Menistério de l’Administraçon Anterna apersentáren ls dados de la populaçon i ls resultados de la botaçon por Fraguesie/OF, quedamos sin saber quales fúrun ls resutados de las poboaçones de cada Fraguesie nas Ouniones de Fraguesies. Ye possible que, tal cumo acunteciu an Angueira, haba outras poboaçones ne ls cunceilhos de la Tierra de Miranda adonde ganhou l PS. Pa lhá disso i de ls ampates, hai algũas Fraguesies/OF adonde, quedando ambos a dous reçbéç, l PSD ganhou por ũa unha negra al PS: por un boto an Carção, ne l cunceilho de Bumioso; i, respetibamente, por mais un i dous botos, an Bemposta i an Castelo Branco, ne l cunceilho de Mogadouro.
2. La populaçon i ls Cadernos Eileitorales de ls cunceilhos de la Tierra de Miranda
Olhai agora pal l gráfico G1 cul númaro de Moradores, d’Ancritos ne ls Cadernos Eileitorales, de Botantes i d’Abstençones ne ls cunceilhos i na Tierra de Miranda:
Bendo, cun uolhos de ber, ls dados de l quadro mais atrás i deste gráfico, ls númaros de las Fraguesies/OF i de ls trés cunceilhos nas Legislatibas 2022 amóstran-mos inda mais cousas:
2.1. Eicetuando quatro Fraguesies, dues – Miranda de l Douro i Palaçuolo – ne l cunceilho de Miranda i outras tantas – Bruçó i Vale de Madre – ne l cunceilho de Mogadouro, adonde, sigundo ls Censos 2021, oumentou un cachico l númaro de Moradores, nas restrantes Fraguesies/OF destes cunceilhos i an todas las de l cunceilho de Bumioso, l númaro d’Anscritos ne ls Cadernos Eileitorales ye suprior al de Moradores;
2.2. Oumenos 40 de las 44 Fraguesies/OF de ls trés cunceilhos de la Tierra de Miranda, i todas las de l cunceilho de Bumioso, ténen cuntinado i, se nada demudar, cuntinaran a perder populaçon.
Cumo será possible tan grande çfrença antre l númaro de Moradores i l d’Anscritos ne ls Cadernos Eileitorales? Sendo mais recente i, subretodo, mais rigoroso l processo de recuolha de dados pul Anstituto Nacional de Statística, cuido que ls númaros de ls Censos 2021 staran mais próssimos de la realidade! A este respeito cumbenirá inda sclarecer que, ls númaros de ls Censos dízen respeito a todos ls Moradores de cada Fraguesie/OF i cunceilho, ancluindo ls ninos i adolescentes, que, por nun tenéren inda cumpletado 18 anhos, nun puoden botar i, cumo tal, tamien nun puoden cunstar de ls Cadernos Eileitorales. Assi i todo, l númaro de Moradores de 40 an 44 de las Fraguesies/OF de la Tierra de Miranda, son anfriores als d’Anscritos ne ls Cadernos Eileitorales: Bumioso ten a mais 1 318 Anscritos que Moradores; Miranda de l Douro ten 779 a mais; Mogadouro ten 1 686 a mais; i, assi, la Tierra de Miranda ten a mais 3 783 Anscritos que Moradores. Assi, ls númaros de ls Censos 2021 amóstran-mos tamien que l’abstençon real ne ls cunceilhos de la Tierra de Miranda ten que ser mui anfrior a la mi alta abstençon oufecial.
La queston de la grande çfrença antre l númaro de Moradores i d’Anscritos ne ls Cadernos Eileitorales de cada Fraguesie/OF, nun ye solo d’agora, mas yá mui antiga. Custa mesmo a crer que, culas alteraçones al Recenseamiento Eileitoral, ls nuossos políticos inda nun téngan cunseguido resolber de beç este porblema. Ne l miu modo de ber, de dues ũa: ou ándan todos a drumir na fronha ou hai quien steia antressado nisso, subretodo alguns outarcas a que le dará jeito mantener las cousas cunsante stan. Claro stá q’hai seluçon, ou, até mesmo, bárias seluçones, pa l porblema. A este respeito, deixo eiqui dues perguntas: por que rezon nun fázen la lhigaçon antre Cadernos Eleitorales i ls dados de l Registo Cebil? Se, nas eileiçones, ls cidadanos, deç que téngan las cundiçones eisegidas pa l efeito, se puoden candidatar adonde eilhes ou ls sous partidos políticos quegíren i les dir na gana, por que rezon ls outros cidadanos/eileitores nun puoden, fazendo cumo eilhes, sculher botar na Fraguesie/OF adonde nacírun ou adonde passórun parte de la bida ou inda adonde móran? Oumenos assi, deixando de baler la pena andar a amanhar maneira de, nas Eileiçones Outárquicas, trazer pessonas de loinje, subretodo de l strangeiro, pa botáren na Fraguesia adonde nacírun, las cundiçones quedaríen a ser mais eiguales para todos…
Quanto a la perda de populaçon ou çpoboamiento, hoije, bou a deixar de parte este que ye l maior i percipal porblema de la Tierra de Miranda, de l Nordeste Stramuntano i de l Anterior de l nuosso Paiç. Mas, se nada fur feito, mais anho menos anho, bai acabar cula maior parte de las poboaçones de l Anterior de l Paiç, adonde só restraran yerbascos, mato i piedras. Assumindo cada qual las respunsablidades que les tócan, Goberno i outarcas – si, que tamien a estes nun les falta bien que demudar ne l que ténen andado a fazer! – ténen, anton, que, quanto antes, cuidar d’ancuntrar, acordar i seguir outra stratégia de zambolbimiento, aplicando çfrentes medidas políticas q’ajúden a repoboar i a rebitalizar las poboaçones de l Anterior. Mesmo correspundendo a cerca de dous terços de l território nacional, d’hai muito tiempo até hoije, las poboaçones de l Anterior de l Paíc ténen sido tratadas cumo parientes probes.
3. Botaçones de ls partidos nas Legislatibas 2022 ne ls cunceilhos de la Tierra de Miranda
Olhai agora pa l gráfico G2 q’amostra la soma de botos de ls dous partidos mais botados i de todos ls outros partidos an cada un i ne l cunjunto de ls trés cunceilhos:
Cumo este gráfico amostra l númaro – mas nó la percentaige – de botos, puode gerar algũa cunfuson na cumparaçon antre ls cunceilhos pus puode dar l’eideia de que las percentaiges seran maiores adonde cada queluna ye maior. Mas puode nun ser assi yá que cada queluna ye maior ou mais pequenha cunsante l númaro de Moradores, d’Anscritos i de Botantes de cada cunceilho. Cumo Bumioso ye l cunceilho cun menor númaro i Mogadouro l cunceilho cul maior númaro de Moradores, d’Anscritos i de Botantes, cada queluna oumenta de l mais pequeinho pa l maior.
Bendo, anton, l númaro de botos de cada queluna, podemos tirar alguas cunclusones:
3.1. Tenendo alcançado 5 398 botos, l PSD ye l partido ganhador an cada un i ne l cunjunto de ls trés cunceilhos;
3.2. Tenendo alcançado 3 772 botos, ou seia, 2 626 a menos q’l PSD, l PS ye l sigundo mais botado tamien an cada un i ne l cunjunto de ls trés cunceilhos;
3.3. Tenendo alcançado 1 303 botos, ou seia, 2 369 a menos q’l PS, l cunjunto de todos ls restrantes partidos – CHEGA, IL, CDS, BE, PCP-PEV, PAN, ancluindo ls mais pequeinhos, LHIBRE, RIR, MTP, ERGUE-TE i MAS – tubírun, assi i todo, muito menos botos, pouco mais q’un terço de ls de l PS i q’un quarto de ls de l PSD;
3.4. Bendo, de la squierda pa la dreita, cada queluna de l gráfico G2, la tendéncia d’oumento de l número de botos de cada partido (PSD i PS) i de l cunjunto de ls restrantes partidos nas Legislatibas de 2022, que las respetibas quelunas amóstran, acumpanha i ye porporcional al númaro de Moradores, d’Eileitores i de Botantes de cada cunceilho.
Tengo que chamar a la atençon pa l seguinte: ambora, de l cunceilho de Bumioso – l que ten menos Moradores, Anscritos i Botantes –, passando pul de Miranda, pa l de Mogadouro – l que ten maior númaro de Moradores, Anscritos i Botantes – la queluna de cada un de ls dous mais botados (PSD i PS) i de l cunjunto de ls restrantes partidos (CHEGA, IL, CDS, BE, PCP-PEV, PAN, LHIBRE, RIR, MTP, ERGUE-TE i MAS) nas Legislatibas de 2022 bá quedando maior, isso nun quier dezir que, cumo de seguida se puode ber ne l gráfico G3, an cumparaçon culas Legislatibas de 2019, todos téngan oumentado i inda menos nessa proporçon.
4. Resultados de ls partidos nas Legislatibas de 2019 i de 2022
L gráfico G3 amostra-mos la bariaçon de las percentaiges de ls partidos nas Legislatibas 2022 an cumparaçon culas de 2019:
Amporta tamien ber las percentaiges de las botaçones de ls partidos nas Legislatibas de 2022 an cada un i ne ls trés cunceilhos de la Tierra de Miranda. Só podemos quedar c’ũa eideia mais clara se tubirmos un punto de refréncia que permita cumparar ls resultados i ber l que se passou. Claro que nun fai sentido star a cumparar l que nun ye cumparable. Assi, nun bamos a cumparar ls resultados nas Legislatibas culs de las Outárquicas ou de las Eileiçones Persidenciales ou inda culs de las Eileiçones pa l Parlamento Ouropeu; i tamien nun fai sentido cumparar las botaçones nas Legislatibas de 2022 culas de las Legislatibas d’hai muitos anhos atrás. Por bárias rezones, son, neste causo, las botaçones nas Eileiçones Legislatibas de 2019 l melhor punto de refréncia. Decedimos, aton, calcular las cfrenças antre las percentaiges de las botaçones de ls partidos nas Legislatibas de 2022 i de 2019 i apersentá-los de maneira gráfica. Assi, als resultados de 2022, subtraímos ls de las Legislatibas de 2019. Quedamos assi a saber se, i cumo, demudórun las oupçones de ls eileitores de la Tierra de Miranda.
L Quadro atrás i l gráfico G3, q’amostra la çfrença de las percentaiges de botos de ls partidos nas Legislatibas de 2022 i de 2019, permíten-mos tirar algũas cunclusones:
4.1. An relaçon a 2019, l númaro d’Anscritos ne ls Cadernos Eileitorales de 2022 baixou ne ls trés cunceilhos (-970), mas, specialmente, ne ls de Mogadouro (-430) i de Bumioso (-339);
4.2. An 2022, l númaro de Botantes oumentou ne l cunceilho de Mogadouro (+195) i, speciamente, ne l de Miranda de l Douro (+280), mas, por sue beç, baixou ne l de Bumioso (-43);
4.3. La soma de Botos Brancos i Nulos de 2022 baixou cunsiderablemente ne ls trés cunceilhos (-230), subretodo, ne l de Mogadouro (-118);
4.4. Tanto an 2019 cumo an 2022, l PSD – l partido cun mais botos i, cumo tal, l bincedor ne ls trés cunceilhos – an 2022, oumentou l sou número de botos ne l cunceilho de Mogadouro (+293) i, subretodo, ne l de Miranda (+315), mas perdiu alguns botos ne l de Bumioso (-43);
4.5. Tanto an 2019 cumo an 2022, l PS oubtubo l sigundo lhugar ne ls trés cunceilhos, tenendo an 2022, oumentado l sou númaro de botos ne ls cunceilhos de Bumioso (+55) i de Miranda (+57), mas perdido botos ne l de Mogadouro (-66);
4.6. Ne l cunjunto de ls trés cunceilhos, ls partidos que, an 2022, mais oumentórun l sou númaro de botos fúrun l CHEGA (+706), seguido de la IL (+72 botos); assi i todo, l PS oumentou mais botos que la IL ne ls cunceilhos de Bumioso (+55) i de Miranda (+57);
4.7. Cumparatibamente a 2019 i tenendo an cunta que son partidos que questúman tener poucos botos, an 2022, l BE (-262), l CDS, (-203), l PCP-PEV (-40) i l PAN (-38), cumo tamien l cunjunto de ls mais pequeinhos partidos (-184), perdírun todos eilhes muitos botos; ne l causo de l CDS, ne ls trés cunceilhos i, ne l de l BE i de ls pequeinhos partidos, an dous deilhes, la perda ye mesmo suprior al númaro de botos q’alcançórun; assi i todo, an 2022, l PCP-PEV i l PAN cunseguírun mantener mais botos do q’ls que perdírun;
4.8. Todo lhieba a crer que, ne ls trés cunceilhos, la maior parte de ls botos perdidos pul CDS, alguns de ls perdidos puls pequeinhos partidos i de l botos Brancos i Nulos teneran, an 2022, ido a parar subretodo al CHEGA i a la IL; ne ls cunceilhos de Bumioso i de Miranda, la maior parte de ls botos perdidos puls BE, PCP-PEV i PAN teneran passado, cumo boto útil, pa l PS; i, ne l cunceilho de Mogadouro, que parece ser un causo special, la maior parte de ls botos perdidos pul PS i pul PAN teneran passado pa l PSD, passando alguns de ls perdidos pul PSD pa l CHEGA i pa la IL;
4.9. Todos ls outros partidos mais pequeinhos alcançórun mui pouquitos botos, sendo mui ralas las Fraguesies/OF an que oubtenírun algun(s) boto(s).
Ne ls trés cunceilhos de la Tierra de Miranda, l PS yá tenie ganhado, oumenos ũa beç i, an dous deilhes, mais q’ũa beç, nas Eileiçones Outárquicas.
Desta beç, indas que solo por 15 – ou por 13? – botos a mais q’l PSD, l PS ganhou ne l Destrito de Bergáncia. Aton, porque será que, ganhando na maior parte de ls cunceilhos de l Paíç, l PS quedou tan loinje de ganhar na Tierra de Miranda?
Ne l miu modo de ber, nun tenerá sido por culpa de ls sous candidatos a deputados. Cuido até que, s’eilhes nun se cumpremetíssen a fazer çfrente de l que l menistro de l Ambiente i de l’Açon Climática fizo an relaçon a la benda de la cuncesson de las barraiges, cumoquiera la çfrença de botos antre l PSD i PS ne ls cunceilhos de Miranda i de Mogadouro serie inda maior. Por bias disso i inda tamien por outras rezones, yá nas Eileiçones Outárquicas de outubre de 2021 se tenie passado quaije la mesma cousa.
Ne ls cunceilhos de Miranda i de Mogadouro, adonde quédan las trés barraiges pertuesas de l Douro Anternacional, la rezon percipal de la perda de l PS tenerá a ber cula trapalhada an buolta de la benda de la cuncesson de las barraiges de Miranda, Picuote i Bemposta pula EDP. Fui por bias deste negócio que, preacupados i antecipando las trapalhadas qu’el irie a dar, bários cidadanos oureginários de la Tierra de Miranda decedírun formar l Mobimiento Cultural de la Tierra de Miranda. Al cuntrairo de l que questuma acuntecer, ls membros deste Mobimiento nun parórun nin se calhórun. Purmeiro, a tiempo i horas, alertórun l menistro de l Ambiente i de l’Açon Climática pa las manobras de l’antiga cuncessonária pa scapar de pagar las cuntrebuiçones que son debidas; apuis, nun se cansórun de chamar tamien a la atençon de la gente de l Paiç – specialmente, als deputados de todos ls partidos políticos i, até mesmo, de Sue Eiceléncia l Senhor Persidente de la República – pa la trapalhada toda an q’aquel menistro – i, cumo tal, l própio Goberno – se deixórun anrodelhar. L menistro i l Goberno quedórun, assi, cun mui mala cara ne l retrato. Lhabando las manos cumo Pilatos i fazendo crer que nun era nada cu’eilha, tamien l’Outoridade Tributária nun tenerá quedado cun melhor cara qu’eilhes.
Ne l miu modo de ber, hai algũas cousas que l nuobo Goberno, atrabeç de l feturo – i spero que nuobo – menistro de l’Açon Climática i de l’Outoridade Tributária, ten q’assigurar a la gente i als munecípios de la Tierra de Miranda: oubrigar a pagar i cobrar a las ampresas ambolbidas ne l referido negócio – la antiga i la nuoba cuncessonárias de las barraiges de Miranda, Picuote i Bemposta i inda outras mais –, i antregar als munecípios las cuntribuçones que ténen an díbeda. Cuido que, solo assi, todos eilhes deixáran de quedar cun mala cara ne l retrato i, subretodo, poderan recuperar la cunfiança de la gente de la Tierra de Miranda.
Se bien abaluo l que se passou na Tierra de Miranda i ne l restro de l Paíç nas Legislatibas de 2022 – la perda de botos de l CDS pa l CHEGA i pa la IL i de ls partidos de la Squierda, subretodo de l BE i de l PCP-PEV pa l PS –, que, debido, oumenos an parte, als zantendimientos anternos, ls anteriores botantes de l CDS, desta beç, teneran botado ne l CHEGA, na IL i ne l PSD; la trasferéncia de botos de ls partidos de la Squierda, cumo boto útil, pa l PS, fui, ne l miu modo de ber, debido a ũa asneira quaije anfantil destes partidos na botaçon de l Ourçamento de Stado de 2022 i, inda para mais, ne l causo de l BE, nin sequiera era la purmeira beç pus yá tenie botado contra l’aprobaçon de l Ourçamento de Stado de 2021. Cumoquiera tenerá sido esta la rezon de l BE tener sido l partido que perdiu mais botos, inda mais q’l CDS, q’l cunjunto de ls pequeinhos par i q’l PCP-PEV. Botando ambos a dous contra l’aprobaçon de l Ourçamento de Stado de 2022 i, inda para mais, cumo toda la Dreita, l BE i l PCP-PEV probocórun la queda de l Goberno i nuobas Eilheiçones.
Custa mesmo a crer que porfissionales de la política cométan asneiras destas. Nel miu modo de ber, la trasferéncia de botos de l BE i de l PCP-PEV pa l PS quedou inda a deber-se al miedo de l peligro que ganhasse la Dreita. Assi, al cuntrairo de l qu’inda agora l PCP fizo an relaçon a la ambason de l’Oucránia, se deixáren de cuntinar a cometer estas asneiras, ye probable que, an feturas eileiçones, quien dantes questumaba botar nestes partidos torne a botar neilhes. L nuobo Goberno de l PS i l própio partido ténen que star bien cientes disso i seguir, anton, políticas qu’eibíten perdéren estes botos. Ténen, assi, pula frente un zafio nada fácel: cunciliar ls antresses, las spetatibas i las eisigéncias destes nuobos eileitores culs de l sou eileitorado tradicional.
Bocabulairo \\ vocabulário
Abaloar – avaliar \\ abstençon/er-se – abstenção/abster-se \\ acupar – ocupar \\ alhá – lá \\ al – ao \\ al redor – ao redor, à volta \\ alredores – arredores \\ ambason – invasão \\ ambolbido – envolvido \\ ampeçar – começar \\ amportar – imporar, interessar \\ an – em \\ andicar – indicar \\ anfáncia – infância \\ anfrior – inferior \\ anganhar – enganar \\ anrodelhar – enrodilhar \\ anscrito – inscrito \\ Anstituto – Instituto \\ Anterior – Interior \\ anton – então \\ antrar/da – entrar/da \\ antre – entre \\ antresse – interesse \\ antroduçon – introdução \\ apuis – depois, após \\ assi i todo – mesmo assim \\ aton – então \\ beç – vez \\ benir – vir \\ Bumioso – Vimioso \\ buolta – volta \\ buono – bom \\ cachico – pedacito, pouquito \\ calhórun – (forma do verbo “calhar”) calaram \\ cebil – civil \\ cfrença – diferença \\ çfrente – diferente \\ Cicuiro – Cicouro \\ cidadano – cidadão \\ çpoboamiento – despovoamento \\ çuda – açude \\ cu’el – com ele \\ cuidar – pensar, cuidar \\ cula/s – com a/s \\ cumoquiera – talvez \\ cun – com \\ cuntinar/an – continuar/ão \\ cuntrairo – contrário \\ cuntribuçones – contribuições, impostos \\ deç que – desde que \\ demudar – mudar \\ desta feita – desta vez \\ dezir – dizer \\ dir – (forma do verbo “dar”) der \\ dous – dois \\ dreita – direita \\ dũa – de uma \\ dues – duas \\ duonho – dono \\ eideia – ideia \\ eilha – ela \\ eileiçon – eleiçon \\ eileitor – eleitor \\ eilhi – ali \\ Einfanç – Ifanes \\ einiciatiba – iniciativa \\ eiqui – aqui \\ el – ele \\ eisigença – exigência \\ fraguesie – freguesia \\ fizo – (forma do verbo fazer) fez \\ fuonte – fonte \\ fuorça – força \\ fúrun – (forma do verbo ser/ir) foram \\ haba/hai – (formas do verbo “haber”) haja/há \\ inda/indas que – ainda/ainda que \\ jinela – janela \\ l/la – o/a \\ lhá – lá, além \\ lhembrar – lembrar \\ lhiente – lente \\ lhigaçon – ligação \\ lhuç – luz \\ loinje – longe \\ mala cara – má cara/figura \\ mano – mão \\ mantener – manter \\ mi – muito, mim \\ mie/miu – minha/meu \\ miedo – medo, receio \\ mos – nos \\ mui – muito, mim \\ naide – ninguém \\ neilhas/es – nelas/es \\ nino – menino \\ ningun/niun – nenhum \\ nin sequiera – nem sequer \\ nó – não \\ nũa – numa \\ nun – não, num \\ ócalos – óculos \\ oubtener – obter \\ oufício – ofício, profissão, trabalho \\ oumenos – pelo menos \\ ounion – união \\ outarca – autarca \\ outarquie – autarquia \\ outoridade – autoridade \\ pa – para \\ paiç – país \\ Palaçuolo – Palaçoulo \\ palhá – para além \\ pariente – parente \\ peligro – perigo \\ percipal – principal \\ pertués – portugués \\ Picuote – Picote \\ pie – pé \\ piedra – pedra \\ poboaçon – povoação, localidade \\ póngan (forma do verbo “poner”) ponham \\ pori – por azar \\ porparar – preparar \\ preacupado – preocupado \\ probe – pobre \\ proua – vaidade, orgulho \\ Pruoba – Póvoa \\ pul/a – pelo/a \\ punta – ponta \\ puoden – (forma do verbo poder) podem \\ puorta – porta \\ purmeiro – primeiro \\ pus – pois \\ qualquiera – qualquer \\ quedar – ficar \\ quegíren – (forma do verbo querer) quiserem \\ queluna – coluna \\ questumar – costumar \\ quienquiera – quem quer que seja \\ ralo – raro \\ reçbeç – resvés \\ restraran – (forma do verbo restrar) restarão \\ rezon – razão \\ riba – cima \\ Samartino – São Martinho \\ scapar – fugir \\ screbir – escrever \\ scuitar – escutar \\ solo – só \\ soudoso – saudoso \\ sperar – esperar \\ sprança – esperança \\ spreitar – espreitar \\ squecer – esquecer \\ squierda – esquerda \\ Stado – Estado \\ star – estar \\ Stramuntano – Transmontano \\ strangeiro – estrangeiro \\ stubírun/stubo – (forma do verbo “star”) estiveram/esteve \\ suprior – superior \\ talbeç – talvez \\ tamien – também \\ tenerá/téngan – (formas do verbo “tener”) terá/tenham \\ ũa – uma \\ uolho – olho \\ xordo – surdo \\ yá – já \\ ye – (forma do verbo ser) é \\ yerbasco – erva ruim/selvagem \\ you – eu \\ zambolbimiento – desenvolvimento \\ Zenízio – Genísio
Para saber o significado de outras palavras, sugiro a consulta do sítio: